terça-feira, 5 de março de 2013

Manual de dificuldades bíblicas- Jó



JÓ 1:1 - Se todos são pecadores, como Jó poderia ser perfeito?

PROBLEMA: Deus declarou que Jó era "íntegro e reto, temente a Deus, e que se desviava do mal"
(1:1). Entretanto a Bíblia insiste em dizer que "não há justo, nem um sequer", pois "todos pecaram e
carecem da glória de Deus" (Rm 3:10, 23).
SOLUCÃO: A boa palavra dita a respeito de Jó não tinha um sentido absoluto, como fica claro
mais tarde por sua condenação (no capítulo 38) e pela própria confissão de Jó: "Por isso, me
abomino e me arrependo no pó e na cinza" (Jó 42:6). Além disso, Deus apenas proclamou a sua
total isenção de culpa perante os homens, ao passo que Romanos está falando que ninguém, a não
ser pela obra de Cristo, é isento de culpa perante Deus (cf.Rm 3:19).

JÓ 1:1 - Jó existiu realmente?

PROBLEMA: O primeiro versículo do livro de Jó apresenta-nos a principal personagem como
uma pessoa histórica que realmente existiu e viveu na terra de Uz. Entretanto, alguns eruditos da
atualidade têm questionado a real existência do homem chamado Jó. Foi ele de fato uma pessoa
real?
SOLUÇÃO: Jó realmente existiu. Em primeiro lugar, o versículo um deste livro afirma isso com
clareza. Não há indicação literária alguma de que tal afirmação deva ser considerada sob qualquer
outro enfoque, que não como a assertiva de um fato real. E isso deve ser admitido com a mesma
certeza com que se aceitam outras afirmações históricas no restante da Bíblia.
Em segundo lugar, a existência real de Jó é confirmada por referências feitas em outras
partes das Escrituras. Em Ezequiel 14:14,20, Deus cita Jó j u n t o com Daniel e Noé como exemplos
de homens justos. Questionar a existência de Jó é o mesmo que questionar se Daniel e Noé
existiram. Adicionalmente, isso seria também questionar se Deus é verdadeiro, por ter ele feito
referência a esses homens (por meio de Ezequiel) como pessoas reais que viveram no passado.
Finalmente, em Tiago 5:11, encontramos uma referência a Jó na qual ele é tido como
exemplo de paciência em meio a uma tribulação. Tiago refere-se a Jó como que mencionando fatos
concretos, dando a entender que ele considerou que Jó existiu e que tudo o que o livro de Jó relata
ter ele sofrido foi real. Não haveria força alguma no apelo de Tiago se Jó tivesse sido apenas uma
personagem de ficção. Pois, nesse caso, que conforto a sua vida daria a pessoas reais?

JÓ 1:5 - Por que Jó oferecia holocaustos por seus filhos, se eles tinham abençoado a Deus?

PROBLEMA: Segundo esta passagem, Jó era um homem tão piedoso que até mesmo oferecia
holocaustos pelos pecados de seus filhos, considerando a possibilidade de eles terem pecado e
blasfemado contra Deus. Entretanto, a palavra hebraica empregada neste versículo, e em 1:11 e 2:5,
não é "blasfemado", mas "abençoado". Por que essas passagens no original usam a palavra
"abençoado" no lugar da palavra "blasfemado"?
SOLUÇÃO: Duas soluções têm sido propostas. Primeiro, o povo hebreu tinha uma sublime
reverência para com o nome de Deus. De fato, eles nem mesmo pronunciavam seu nome, para não
cometerem nenhuma possível blasfêmia com esse ato. Quando o nome Yahveh aparecia no texto das
Escrituras, o hebreu piedoso não o pronunciava em voz alta, mas o substituía por "Adonai", que
significa "Senhor". Sugere-se que talvez o autor de Jó (ou um editor posterior), tendo reconhecido
tal reverência, não quis escrever ou pronunciar a palavra "blasfemado" com referência a Deus.
Assim, ele substituiu a palavra "blasfemado" pela palavra "abençoado", deixando que o contexto
fornecesse o sentido.
Segundo, outros sugeriram que o verbo utilizado no versículo em questão, barak, significa
"dizer 'até-logo' a alguém". Várias passagens são citadas como exemplo do uso desta palavra com
este sentido, tais como Gênesis 24:60; 32:1 e 47:10. Neste contexto ela é vista como um
eufemismo, que empregou uma antifrase, ou seja, usar uma palavra ou uma frase com o sentido
oposto ao normal. Às vezes fazemos algo semelhante ainda hoje. Por exemplo, alguém
sarcasticamente diz "sim" quando o sentido obvio é "não". A afirmação de Jó (1:5), então, pode ser
traduzida: "talvez, os meus filhos tenham pecado e despedido Deus de seus corações". Seja como
for, a palavra dá a idéia de "demitir" ou rejeitar a Deus.

JÓ 1:6 - Como Satanás poderia apresentar-se diante de Deus, se ele tinha sido expulso do céu?

PROBLEMA: Jó 1:6 declara que num dia os filhos de Deus vieram apresentar-se perante o Senhor,
e que "veio também Satanás entre eles". Entretanto, isto implica que Satanás tinha acesso ao trono
de Deus, contrariamente ao que se declara, ou seja, que ele tinha sido expulso da presença de Deus
no céu (Ap 12:7-12).
SOLUÇÃO: Satanás tinha sido oficialmente expulso do céu, contudo, na verdade, ele ainda
continuava tendo acesso à presença de Deus. Em várias partes das Escrituras encontramos que
Satanás tem acesso à presença de Deus com o fim de acusar os santos. Em Zacarias 3:1 temos a
visão de Josué diante do Anjo do Senhor e com Satanás à sua direita para acusá-lo. Apocalipse
12:10 identifica Satanás como o acusador dos irmãos: "...o mesmo que os acusa de dia e de noite,
diante do nosso Deus". Aparentemente, como "o príncipe da potestade do ar" (Ef 2:2), Satanás tem
tido a oportunidade de comparecer perante Deus com o propósito de acusar de pecado os filhos de
Deus. E é isso o que ele fez contra Jó, tanto em Jó 1:6 como em 2:1.

JÓ 1:6 - Quem são os filhos de Deus mencionados neste versículo?

PROBLEMA: Satanás aparece na história de Jó, diante do trono de Deus, junto com um grupo
identificado como "os filhos de Deus". Quem são esses "filhos de Deus"?
SOLUÇÃO: São anjos. Muitas outras passagens na Bíblia referem-se aos anjos como "filhos de
Deus", entre as quais Jó 2:1 e Jó 38:7(cf. Sl 29:1 e 89:6, em que o hebraico emprega a expressão
"filhos de Deus"). Os anjos são os "filhos" de Deus no sentido de que eles foram criados por Deus.
(Veja também os comentários de Gênesis 6:2ss.)

JÓ 1:20-21 - Este versículo não estaria ensinando a reencarnação?

PROBLEMA: A Bíblia fala contra a crença na reencarnação (Hb 9:27). Mas Jó fala de uma pessoa
voltando de novo depois de sua morte.
SOLUÇÃO: Jó não está se referindo à volta da alma a um outro corpo para uma nova vida, mas à
volta do corpo ao túmulo. Deus disse a Adão que ele tornaria à terra: "porque tu és pó e ao pó
tornarás" (Gn 3:19). E a palavra hebraica para "ventre" (beten) é usada figuradamente na expressão
poética de Jó com relação à "terra". As idéias de "terra" e "ventre" são empregadas no Salmo 139,
quando o salmista diz: "tu me teceste no seio de minha mãe" (v.13) e "no oculto fui formado e
entretecido como nas profundezas da terra" (v. 15).
Tal como no antigo livro hebraico da sabedoria (no apócrifo Eclesiástico 40:1), Jó acreditava que
os homens trabalham "desde o dia em que saíram do ventre materno, até o dia em que voltarem para a
mãe comum [isto é, o ventre da terra]" (BJ). Dessa forma, Jó empregou a expressão poética "nu
voltarei" [i.e., para o ventre de minha mãe] referindo-se à terra da qual todos nós proviemos e para a
qual todos voltaremos (cf. Ec 12:7).
Além disso, mesmo que se insistisse num entendimento literal dessa figura de linguagem,
isso não provaria o ensinamento da reencarnação. Apenas mostraria que uma pessoa voltaria ao
ventre de sua mãe depois de sua morte, o que é um absurdo!
Finalmente, Jó não acreditava na reencarnação num outro corpo mortal; ele acreditava na
ressurreição e num corpo imortal. Ele declarou: "Porque eu sei que o meu Redentor vive e por fim
se levantará sobre a terra. Depois, revestido este meu corpo da minha pele, em minha carne verei a
Deus" (Jó 19:25-26). Ele tinha a compreensão de que esta carne corruptível na ressurreição se
transformaria numa carne incorruptível (cf. 1 Co 15:42-44). Mas a reencarnação, contrariamente,
não acredita que seremos ressuscitados uma vez só num corpo físico imortal; ela é a crença de que a
alma é reencarnada muitas vezes em corpos mortais. Assim, não há base alguma para se afirmar que
Jó acreditava em reencarnação.

JÓ 5:13 - Por que Paulo cita estas palavras de Elifaz, se este foi repreendido por Deus pelo
que falou, segundo Jó 42:7?

PROBLEMA: Elifaz era um dos amigos de Jó, que veio para consolá-lo em sua tribulação. Em Jó
5:13, este seu amigo faz as seguintes observações, que são citadas por Paulo em 1 Coríntios 3:19:
"Ele [Deus] apanha os sábios na própria astúcia deles". Entretanto, em Jó 42:7, Deus repreende
Elifaz e seus amigos, dizendo: "não dissestes de mim o que era reto, como o meu servo Jó". Como
pôde Paulo citar Elifaz, já que Deus o repreendera por não dizer as coisas certas?
SOLUÇÃO: Embora Deus tenha repreendido Elifaz pela sua visão geral de Deus, isso não significa
que tudo o que Elifaz tenha dito foi incorreto. Houve muitas coisas em particular que Jó disse mas
que não eram corretas; entretanto, a visão de Deus de seu servo Jó estava correta de maneira geral.
As vezes, até mesmo o próprio Jó reconheceu serem verdadeiras algumas coisas que Elifaz e seus
amigos tinham dito. O problema era que eles não aplicaram corretamente a verdade de que tinham
conhecimento, e impropriamente aplicaram-na com relação ao que Deus estava fazendo na vida de
Jó.

JÓ 7:9 - Este versículo contradiz o que a Bíblia ensina a respeito dá ressurreição?

PROBLEMA: As Escrituras ensinam que todas as pessoas serão corporalmente ressuscitadas do
túmulo (Cf. Dn 12:2; 1 Cor 15:22; Ap 20:4-6).
Com efeito, Jesus disse que um dia "todos os que se acham nos túmulos ouvirão a sua voz e sairão"
(Jo 5:28-29). Entretanto, Jó parece dizer exatamente o contrário: "aquele que desce à sepultura
jamais tornará a subir" (Jó 7:9 cf. também Jó 14:12; Is 26:14; Am 8:14).
SOLUÇÃO: Como as três primeiras passagens acima citadas claramente revelam, haverá uma
ressurreição de todos os mortos, tanto do justo como do injusto (At 24:15, cf. Jo 5:28-29). O próprio
Jó demonstrou crer na ressurreição, ao declarar: "Depois, revestido este meu corpo da minha pele,
em minha carne verei a Deus" (Jó 19:26). O que ele quis dizer quando disse que aquele que desceu
ao túmulo não mais dele sairá (7:9) é explicado logo no versículo seguinte: "nunca mais tornará à
sua casa" (v. 10). Em outras palavras, aqueles que morrem não voltam à sua vida mortal de novo.
Com efeito, a ressurreição é para uma vida imortal (1 Co 15:53), não para a mesma vida mortal que
se tinha.
Jó 14:12 não declara que não haverá nenhuma ressurreição, mas que isso não ocorrerá
"enquanto existirem os céus", ou seja, até o fim dos tempos (Dn 11:40; cf. 12:1-2; Jo 11:24). De
fato, a passagem realmente ensina a ressurreição. Jó apenas disse que ficaria escondido no túmulo
esperando até um tempo determinado em que Deus se lembraria dele (14:13), na ressurreição.
De igual forma, a passagem de Isaías (Is 26:14) não nega a ressurreição, mas é confirmada
num versículo mais adiante, claramente: "Os vossos mortos e também o meu cadáver viverão e
ressuscitarão... e a terra dará à luz os seus mortos" (Is 26:19). Obviamente, então, o sentido do
versículo 14 é: "mortos não tornarão a viver" até a ressurreição. A memória dos ímpios perecerá no
cenário deste mundo. Somente com o surgimento do cenário celestial é que eles de novo se
levantarão.
Ainda, alguns textos que parecem negar a ressurreição (por exemplo, Am 8:14), apenas
referem-se ao fato de que os inimigos de Deus caem, para não mais se levantarem em oposição.
Eles jamais retomarão a sua capacidade de influenciar o povo de Deus, como acontecia antes. Em
resumo, Deus derrotou os seus inimigos definitivamente.

JÓ 11:7- Deus pode ser conhecido pelos seres humanos?

PROBLEMA: Jó parece querer dizer que Deus não pode ser conhecido pela razão humana. Paulo
também declarou que os juízos de Deus são "insondáveis... e... inescrutáveis, os seus caminhos!"
(Rm 11:33). Por outro lado, a Bíblia declara que Deus se revelou a todos os homens (Rm 1:20), de
modo que eles são "indesculpáveis" (v. 20). Com efeito, à Bíblia é referida como sendo uma
revelação especial de Deus, pela qual podemos conhecê-lo e servi-lo (2 Tm 3:16-17).
SOLUÇÃO: Deus não pode ser conhecido direta e completamente nesta vida: "Porque, agora,
vemos como em espelho, obscuramente; então, veremos face a face. Agora, conheço em parte;
então, conhecerei como também sou conhecido" (1 Co 13:12). Deus pode ser conhecido "por meio
das cousas que foram criadas" (Rm 1:20), mas em si mesmo ele não pode ser conhecido. O seguinte
contraste nos dá um resumo dos modos pelos quais Deus pode e não pode ser conhecido:
COMO DEUS NÃO PODE SER CONHECIDO - COMO DEUS PODE SER CONHECIDO
Ele mesmo - (Sua essência)
Por meio da sua criação - (Seus efeitos)
Diretamente - Indiretamente
Completamente - Parcialmente
Como espírito - Como encarnado em Cristo

Embora seja verdade que "Ninguém jamais viu a Deus [em sua essência]..." (Jo 1:18), "...o Deus
unigênito, que está no seio do Pai, é quem o revelou". Assim, Jesus pôde dizer: "Quem me vê a mim
vê o Pai" (Jo 14:9).

JÓ 14:12 - Este versículo contradiz o ensino bíblico quanto à ressurreição?
(Veja os comentários de Jó 7:9.)

JÓ 19:17 - Como Jó pôde referir-se a seus filhos neste versículo, se todos eles tinham morrido
antes?

PROBLEMA: De acordo com Jó 1:2; 18-19 (cf. 8:4) todos os filhos de Jó foram mortos numa
tempestade de vento. Contudo em Jó 19:17 é dito: "o meu hálito se fez estranho à minha mulher;
tanto que supliquei o interesse dos filhos do meu corpo" (SBTB).
SOLUÇÃO: A palavra "filhos" pode ter o sentido de "netos" ou até mesmo de "parentes de
sangue". Com sete filhos e três filhas (cf. 1:2,18), Jó certamente tinha muitos netos. Ele viveu mais
140 anos depois de sua enfermidade (Jó 42:16). Dessa forma, em sua longa vida, ele teve tempo
suficiente para ter netos e bisnetos.

JÓ 19:26-Este versículo dá a entender que o corpo da ressurreição vai ser um corpo de carne?

PROBLEMA: Satãnás a f l ig iu o corpo de Jó, e sua carne estava deteriorando-se. Entretanto, Jó
expressou a sua fé em Deus ao dizer: "em minha carne verei a Deus" (Jó 19:26). Isso quer dizer que
o corpo ressurreto será um corpo de carne?
SOLUÇÃO: Sim. Embora a preposição empregada (min) possa ser traduzida ainda como "sem", é
uma característica dela, quando usada com o verbo "ver", ter o sentido de "na condição mais
favorável de". Essa idéia é reforçada pelo emprego do paralelismo de contraste neste versículo. A
poesia hebraica com freqüência utiliza duas linhas paralelas de uma expressão poética, que às vezes
expressa palavras ou idéias contrastantes (chamada de "paralelismo antitético"). No caso, o
consumir da carne de Jó contrasta-se com a sua confiança em que Deus restaurará o seu corpo, que
está se deteriorando diante de seus olhos, e com a esperança de que em sua carne ele verá a Deus.
Esta é uma das mais sublimes expressões de fé feita por Jó, fé numa ressurreição literal e física
(veja também Dn 12:2; Lc 24:39; Jo 5:28-29; At 2:31-32).

JÓ 37:18 - Não erra a Bíblia ao falar de uma sólida abóbada celestial sobre a terra?

PROBLEMA: Jó fala que Deus estendeu "o firmamento, que é sólido como espelho fundido"
(37:18). De fato, a palavra hebraica para "firmamento" (raqia), que foi criado por Deus (cf. Gn 1:6),
no dicionário hebraico é definida como um objeto sólido. Mas isso está em total conflito com o
atual entendimento científico de que o espaço não é sólido e de que é altamente vazio.
SOLUÇÃO: É verdade que originalmente a palavra hebraica raqia significava um objeto sólido.
Entretanto, o sentido não é determinado pela origem da palavra (etimologia), mas pelo uso. Quando
referindo-se à atmosfera sobre a terra, "firmamento" com certeza não significa algo sólido. Isso é
evidente por várias razões. Primeiro, a palavra raqia (forjar, desenrolar) é traduzida corretamente
em algumas versões como o verbo "expandir". Assim como o metal se expande e se afina quando
batido (cf. Êx 39:3; Is 40:19), assim é o firmamento.
Segundo, o sentido básico de "desenrolar" pode ser usado independentemente de "forjar",
como ocorre em várias passagens (cf. Sl 136:6; Is 42:5; 44:24). Isaías escreveu: "Assim diz Deus, o
Senhor, que criou os céus e os estendeu, formou a terra e a tudo quanto produz" (Is 42:5). Este
mesmo verbo é empregado com o significado de estender cortinas ou tendas dentro das quais morar
(o que não teria sentido algum se o verbo se referisse a uma ação que não deixasse espaço interior
para nele a pessoa ficar). Isaías, por exemplo, falou que o Senhor "está assentado sobre a redondeza
da terra, cujos moradores são como gafanhotos; é ele quem estende os céus como cortina e os
desenrola como tenda para neles habitar" (Is 40:22).
Terceiro, a Bíblia menciona a chuva que cai do céu (Jó 36:27-28). Mas isso não teria sentido
se o céu fosse uma abóbada metálica. Nem a Bíblia menciona buracos nessa abóbada metálica pelos
quais a água passaria, caindo em forma de gotas. Ela fala, é claro, com uma linguagem figurada
quando diz que "as comportas dos céus se abriram" (Gn 7:11), quando aconteceu o dilúvio. Mas
essa expressão não é para ser tomada literalmente, da mesma forma como não tomamos de modo
literal a seguinte frase dita por alguém: "estavam ali cinco gatos pingados".
Quarto, o relato da criação em Gênesis fala de aves que voam "sobre a terra, sob o
firmamento dos céus" (Gn 1:20). Mas isso seria impossível se o céu fosse sólido. Assim, é mais
apropriado traduzir raqia como o verbo "expandir" (como o faz a NVI), cujo sentido não conflita
com o conceito de espaço da ciência moderna.
Quinto, mesmo que tomada literalmente, a afirmação de Jó (em 37:18) não diz que os céus
são um "espelho fundido", mas apenas que eles são "como um espelho fundido". Em outras
palavras, trata-se de uma comparação que não é para ser tomada de forma literal. E o mesmo caso
da comparação feita quando o texto diz que Deus é realmente uma Torre forte (cf. Pv 18:10). Além
disso, o ponto de comparação em Jó não é a respeito da solidez dos "céus" e do espelho, mas da sua
durabilidade (cf. a palavra chazaq* no versículo 18).
Assim, quando tudo isso é levado em consideração, não há evidência de que a Bíblia esteja
afirmando que o firmamento é uma abóbada metálica. E, portanto, não há conflito algum com a
ciência moderna.

JÓ 41:1 - Esta passagem está referindo-se à figura mitológica do leviatã?

PROBLEMA: Jó 41:1 diz: "Poderás tirar com anzol o leviatã, ou ligarás a sua língua com uma
corda?"(SBTB). Mas como a Bíblia pode falar dessa figura mitológica, como se de fato existisse
esse monstro marinho?
SOLUÇÃO: Embora se trate basicamente do mesmo nome empregado nos documentos
mitológicos que descrevem um monstro marinho chamado leviatã, não é de todo certo que Jó 41:1
* Este termo, em vez de ser traduzido como sólido, pode significar também "forte" ou "firme": estendeste... os céus, que
estão firmes como espelho fundido" (SBTB) (N. do T.)
esteja referindo-se a esse monstro. Alguns comentaristas propõem que esta seja uma referência a um
grande crocodilo, e que o nome "leviatã" seja usado para dar ênfase à idéia de que ele não é
controlável.
Além disso, expressões desse tipo são comuns hoje em dia, tal como acontece quando
alguém se refere a um adversário como sendo "um monstro". Com isso não se quer dizer que
monstros existem de fato. É apenas aplicar a característica terrível, que geralmente está associada à
idéia de um monstro, a uma determinada pessoa ou coisa.
Finalmente, mesmo que se aceite que se trate de uma referência à criatura mencionada nas
fábulas mitológicas, nesse texto poético a sua menção não é uma declaração de que ela realmente
exista. Pode ser o caso de uma simples linguagem poética, fazendo uso da imagem de um monstro
indomável, para assim ilustrar um determinado ponto.
Conquanto Jó seja um homem totalmente incapaz de domar essa terrível fera, Deus é Todo-Poderoso,
e é ele que limita a ação tanto do homem como de uma fera como essa. Seria como se
alguém dissesse hoje: "Jesus (crido como real, histórico) é mais forte do que o super-homem (que é
um mito)". As expressões poéticas com freqüência empregam figuras simbólicas num esforço de
aumentar o impacto emocional da mensagem que está sendo transmitida. Entretanto isso não quer
dizer, que o autor esteja aceitando a mitologia pagã que lhe permitiu fazer uso de tal figura.

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