quinta-feira, 7 de março de 2013

Manual de dificuldades bíblicas- Hebreus 2

HEBREUS 2

HEBREUS 8:1 - Jesus é o nosso sacerdote ou o nosso sacrifício?
PROBLEMA: Cristo é apresentado como o "sumo sacerdote" dos crentes (cf 7:21). Entretanto,
mais adiante Jesus é descrito como sendo "o sacrifício" pelos nossos pecados (Hb 9:26, 28; 10:10).
O que é ele então?
SOLUÇAO: Jesus é corretamente representado por essas duas figuras. Ele é o nosso sacerdote por
dirigir-se a Deus em favor do homem. Contudo, ele é o nosso sacrifício, por ter oferecido a si
mesmo na cruz por nossos pecados. Ele é o ofertante e também a oferta; é o que sacrifica e o que é
sacrificado. Ele "a si mesmo se ofereceu" (Hb 7:27).
HEBREUS 9:3-4 - O altar do incenso ficava no Santo Lugar ou no Santo dos Santos, atrás do
véu?
PROBLEMA: De acordo com Êxodo 30:6 (cf. 26:33; 40:3), o altar do incenso encontrava-se no
Santo Lugar, defronte do véu, e não no Santo dos Santos, atrás do véu. Entretanto, Hebreus 9:3-4
afirma que ele estava "por trás do... véu [no]... tabernáculo que se chama o Santo dos Saltos".
SOLUÇAO: Várias possíveis soluções têm sido sugeridas para essa dificuldade. Qualquer uma
delas resolveria o problema.
1. O texto teria sido alterado por um erro de copista. Alguns eruditos observam que
possivelmente haja uma deslocação de texto nessa passagem, e que a frase referente ao "altar de
ouro" (v. 4) na verdade pertenceria ao versículo 2, junto com os demais utensílios no Santo Lugar.
Eles observam que esta é a forma que consta em alguns manuscritos antigos, tais como no
Vaticanus (no século IV), no Cóptico e em versões etiópicas.
Outros objetam dizendo que a evidência textual e praticamente todas as traduções modernas
se opõem, de forma esmagadora, àquelas isoladas exceções. Dizem ainda que os poucos textos
dessas exceções deixam a impressão de que são o resultado de uma tentativa de "corrigir" a
passagem considerada difícil de ser entendida.
2. O altar estava do lado de dentro do véu. Aceitando-se o que diz Hebreus 9:3-4, tem-se
argumentado que o altar do incenso sempre esteve dentro do Santo dos Santos. Essa posição é
sustentada pelos seguintes argumentos. Primeiro, está de acordo com a afirmação bem clara de
Hebreus 9:3-4.
Segundo, isso é o que se pode deduzir de outras passagens que falam desse altar como
estando "diante da arca do Testemunho" (Êx 40:5), a qual encontrava-se no Santo dos Santos.
Terceiro, há algumas versões em que 1 Reis 6:20 menciona o altar do incenso como pertencente ao
santuário interior (como, por exemplo, a tradução inglesa de Phillip E. Hughes).
Os que se opõem a essa posição têm apresentado várias objeções. Primeiro, que ela está em
desacordo com o que é registrado de forma bem clara no AT (por exemplo, Êx 30:6-10), cujos
textos se referem ao altar de incenso como estando no Santo Lugar, junto com o pão e as lâmpadas.
O sacerdote, que era proibido de entrar no Santo dos Santos (exceto no dia da expiação), servia no
altar de incenso diariamente (Êx 30:6-11). Segundo, Filo, Josefo e outras autoridades judaicas
apontaram com unanimidade para a localização do altar de incenso como sendo do lado de fora do
véu, no Santo Lugar.
Finalmente, o NT também se refere a ele como estando do lado de fora do véu, onde os
sacerdotes comuns, como Zacarias, ministravam (Lc l:5ss).
3. O véu era removido no dia da expiação. De acordo com essa posição, o altar do incenso
permanecia normalmente do lado de fora do véu, no Santo Lugar. Entretanto, os que defendem essa
posição crêem que, no dia da expiação, o véu era removido para trás de forma que o sacerdote
pudesse ter fácil acesso ao altar de incenso, para usá-lo no Santo dos Santos. O que dá respaldo a
essa posição decorre do seguinte: Primeiro, a Bíblia geralmente fala do altar de incenso como
estando separado do Santo dos Santos por um véu (cf. Êx 30:6; Lv 16:12,15,17). A única ocasião
em que esse altar ficava acessível ao sacerdote no Santo dos Santos era no dia da expiação (cf. Lv
16:2; Hb 9:7).
Finalmente, isso está de acordo com a tipologia do sacerdote do AT, que fazia uma vez por
ano o que Cristo fez uma vez para sempre (cf. Hb 10:10-11), ou seja, a remoção do véu que nos
separa de Deus. A esse respeito observa-se que Cristo rasgou o véu (Mt 27:51), e que não há mais
separação entre o Santo Lugar e o Santo dos Santos.
Os principais problemas a respeito dessa visão são os seguintes: Primeiro, não há passagem
que realmente fale sobre o véu ser removido no dia da expiação. Segundo, isso pode levar essa
tipologia longe demais, afinal de contas, nem tudo que o sacerdote do AT fazia prefigurava Cristo.
Por exemplo, eles continuavam a oferecer sacrifícios após o dia da expiação (Hb 10:11); Cristo não
fez isso. Terceiro, há passagens que com clareza dão a entender que o véu permanecia em seu lugar
no dia d; expiação e que o sacerdote ia "para dentro do véu" para realizar o seu trabalho (Lv 16:12;
cf. 15,17, 23, 27).
4. Havia dois altares de incenso. Alguns estudiosos afirmam que havia dois altares, um
dentro e outro fora do véu, resolvendo assim a questão. Eis a solução tem o mérito de explicar todos
os dados envolvidos, e de escapar de todas as dificuldades existentes nas duas posições precedentes.
Entretanto, há grandes problemas com essa posição. Primeiro, não há referência alguma a
dois altares de incenso nem no AT nem no NT. Segundo, autoridades judaicas (tais como Filo e
Josefo) não fazem referência a esse possível segundo altar.
Terceiro, se houvesse dois altares, então o autor de Hebreus poderia ser responsabilizado por
uma grave omissão, já que ele não faz referência alguma ao altar de incenso do Santo Lugar, que
fazia parte do ministério normal, diário, do sacerdote (Hb 9:3-4).
Finalmente, essa é uma sugestão que parece ser do tipo conciliadora, ou seja, propõe uma
solução, mas sem apresentar uma base real para sustentá-la.
5. O incensaria de ouro difere do altar de ouro. Essa posição afirma que a palavra grega
thumiaterion, que freqüentemente é traduzida por "altar de. ouro"(Hb 9:4) poderia ser também
"incensário de ouro" (como traduzem as versões R-IBB e SBTB). Isso resolveria a dificuldade, já
que o altar de incenso permaneceria fora do véu e o incensário de ouro ficaria do lado de dentro,
onde o sacerdote poderia usá-lo no dia da expiação.
Em apoio a essa posição, os seguintes argumentos poderão ser considerados: Primeiro,
"incensário" é uma tradução aceitável da palavra grega thumiaterion, que pode significar tanto o
lugar como o instrumento do incenso. Segundo, essa mesma palavra grega é usada com o sentido de
incensário em outras partes da versão grega do AT (cf. Ez 8:11; 2 Cr 26:19). Terceiro, essa posição
tem o suporte do Mishnah judaico, que dá uma detalhada descrição desse incensário de ouro.
Quarto, ela evita a evidente contradição de se ter um altar em dois lugares.
Quinto, ela está conforme o fato de que o altar de incenso geralmente é mencionado junto
com o pão e as lâmpadas (que se acham sempre Santo Lugar), ao passo que o incensário de ouro é
usado uma só vez por ano no Santo dos Santos (Lv 16:2,12, 29).
Sexto, a Arão, sumo sacerdote, foi expressamente ordenado que queimasse incenso num
incensário diante do Testemunho no dia da expiação (Lv 16:12-13). Sétimo, na condição de mestre
judeu, conhecedor da lei, o autor de Hebreus teria familiaridade com os utensílios e com o ritual do
templo. Oitavo, sua mensagem não teria tido aceitação alguma, entre os leitores hebreus, caso
tivesse ele cometido um erro tão grosseiro, mencionando erradamente a posição do altar do incenso.
Nono, considerando-se que esse instrumento de incenso era usado uma vez só por ano no
Santo dos Santos, nada seria mais razoável do que admitir que ele fosse deixado lá.
Contudo, por mais que se possa falar em favor dessa posição, ela também enfrenta algumas
objeções. Em primeiro lugar, a palavra grega em questão normalmente se traduz por "altar de ouro"
(por exemplo, na ARA, na NVI, na EC, na TLH, na B V e na BJ) e não por "incensado de ouro"
(que consta, porém, na R-1BB e na SBTB).
Segundo, se a tradução correta for "incensario de ouro", então o autor de Hebreus estará
incorrendo num erro grosseiro de não fazer menção ao altar do incenso, e isso é pouco provável,
considerando-se a sua relevância em meio aos utensílios do tabernáculo e no ofício sacerdotal
diário.
Terceiro, se a referência fosse mesmo a um incensário, ele não teria sido feito de ouro, mas
de bronze, para poder agüentar o calor das brasas do incenso. Finalmente, o mesmo termo é
empregado por autoridades judaicas daquela época (Filo e Josefo) em referência ao altar de incenso.
6. O altar do incenso era removido no dia da expiação. Outros eruditos afirmam que
Hebreus 9:3-4 é uma referência ao "altar de ouro" de incenso que era removido de seu local
habitual, isto é, do lado de fora do véu, na data especial do dia da expiação. Há vários argumentos
em favor dessa tese. Primeiro, ela resolve o aparente conflito ao sustentar que havia uma só peça,
que era posta em dois lugares diferentes nas ocasiões apropriadas.
Segundo, ela explica todos os fatores envolvidos, de forma consistente. Terceiro, não faz
uso da teoria de natureza especulativa da existência de dois altares. Quarto, parece ser inconcebível
que o autor de Hebreus, escrevendo a hebreus cristãos, que tinham familiaridade com esses fatos,
fosse errar ao mencionar a posição desse importante item do tabernáculo. Essa posição está livre
dessa situação tão improvável.
Quinto, ela explica como o sumo sacerdote podia usar esse altar com tanta facilidade na
purificação do Santo dos Santos no dia da expiação, uma vez que o altar de incenso havia sido
removido para lá naquele dia.
Sexto, ela se ajusta muito bem às outras referências das Escrituras ao oferecimento de
incenso na presença real de um santo Deus (Ap 8:3;9 13). Sétimo, ela é coerente com 1 Reis 6:22,
que diz: "todo o altar [de incenso] que estava diante do Santo dos Santos".
Oitavo, Êxodo 30:6 (cf. 40:5) pode ser entendido como instruções p ra remover o altar do
incenso para o Santo dos Santos no dia da expiação. De igual modo, Hebreus 9:6 pode abarcar
também a menciona essa remoção, quando diz: "Ora, depois de tudo isto assim pre-p irado...".
Nono, o livro judeu Apocalipse de Baruque (6.7), que pertence a esse m esmo período,
descreve o Santo dos Santos como um lugar que continha o altar do incenso.
Tem-se sugerido que, por não haver uma explícita referência à remoção do altar do incenso
no dia da expiação, essa posição seja problemática. Assim também, alguns têm questionado como o
sumo sacerdote poderia remover sozinho esse altar, que era pesado. Mas nenhum desses
argumentos são fortes o suficiente, uma vez que nem tudo é explicitamente registrado nas
Escrituras, e que os outros sacerdotes bem poderiam cuidar dos procedimentos necessários para o
dia expiação.
7. O altar estaria "dentro" por uma associação doutrinária. Alguns estudantes da Bíblia
sugeriram que o altar do incenso de fato se localizava lado de fora do véu, mas que em Hebreus
9:3-4 foi mencionado co-mb estando atrás do véu, em vista de sua forte ligação com a arca da arca
e com o sacrifício expiatório que lá era oferecido.
Para resumir, Hebreus estaria mencionando o altar como estando lá dentro por uma questão
de associação doutrinária, e não como referencia à sua localização física. Em apoio a essa
conclusão eles citam o fato de que o autor de Hebreus usa o particípio "tendo" (echousa) em vez da
expressão "no qual" (en hê), que claramente denotaria uma localização física.
Essa posição, é claro, resolveria muitos dos problemas associados às oi trás opiniões, mas
ela em si cria seus próprios problemas. Em primeiro lugar, a mesma palavra {echousa), que tem o
sentido de "tendo", é usada com um sentido físico nessa mesma passagem (cf. v. 4). Além disso, as
dt as frases são usadas de forma intercambiável nesse texto, indicando que é mais uma questão de
variação de estilo do que um desejo de dar uma impressão de um sentido não físico, mas relacionai.
Para resumir, embora qualquer uma dessas posições seja possível e poderia resolvera
dificuldade, algumas delas parecem improváveis (1:7). Outras parecem ser mais prováveis (5 e 6).
Não importando qual delas seja a correta, o fato é que essa questão não demonstra haver um erro na
Bíblia. Pelo contrário, várias soluções aceitáveis acham-se disponíveis.

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