quarta-feira, 6 de março de 2013

Manual de dificuldades bíblicas- Cântico dos cânticos


CÂNTICO DOS CÂNTICOS

CÂNTICO DOS CÂNTICOS 1:1 - Como um livro tão sensual assim entrou na Bíblia?

PROBLEMA 1: A Bíblia condena a concupiscência da carne e a sensualidade (Rm 6:6; Gl 5:16-21;
1 Jo 2:16). Contudo este cântico de amor está cheio de expressões sensuais e propostas sexuais (cf.
1:2; 2:5; 3:1; 4:5).
SOLUÇÃO 1: A Bíblia não condena o sexo, apenas o sexo pervertido. Deus criou o sexo (Gn 1:27)
e ordenou que fosse desfrutado dentro dos limites do casamento monogâmico e sob o
relacionamento do amor. As Escrituras declaram: "Alegra-te com a mulher da tua mocidade, corça
de amores e gazela graciosa. Saciem-te os seus seios em todo o tempo; e embriaga-te sempre com
as suas carícias" (Pv 5:18-19).
Depois de advertir àqueles que proíbem o casamento (1 Tm 4:3), o apóstolo declara que
"tudo que Deus criou é bom" (v. 4), e prossegue falando do Deus "que tudo nos proporciona
ricamente para nosso aprazimento" (6:17). O livro de Hebreus destaca que "digno de honra entre
todos seja o matrimônio, bem como o leito sem mácula; porque Deus julgará os impuros e
adúlteros" (Hb 13:4).
Deus tem consciência de que as pessoas normais têm desejos sexuais, mas ele acrescenta:
"mas, por causa da impureza, cada um tenha a sua própria esposa, e cada uma, o seu próprio
marido" (1 Co 7:2). Assim, o sexo em si não é pecado, assim como os desejos sexuais também não
o são. Deus os criou com a pretensão de que fossem desfrutados dentro dos laços de amor de um
casamento monogâmico. O Cântico dos Cânticos de Salomão é um exemplo de como o amor
sensual deve expressar-se no casamento, dado com a autoridade divina.
PROBLEMA 2: Alguns questionam se este livro deveria estar na Bíblia, declarando que alguns
rabinos o rejeitaram. Ele sempre fez parte das Escrituras judaicas?
SOLUÇÃO 2: Desde os tempos mais antigos este livro faz parte do cânon judaico. Séculos depois
de ter sido aceito no cânon das Escrituras, a escola de Shammai (no século I a.D.) levantou dúvidas
quanto à sua inspiração, mas a posição do Rabi Akiba ben Joseph (cerca de 50-132 a.D.)
prevaleceu, quando declarou: "Deus nos livre! - Ninguém em Israel jamais contestou o Cântico dos
Cânticos... pois todas as eras não valem o dia em que o Cântico dos Cânticos foi dado a Israel; pois
todos os escritos são santos, mas o Cântico dos Cânticos é o mais Santo dos Santos" (veja Geisler e
Nix, A General Introduction to the Bible [Uma Introdução Geral à Bíblia], Moody Press, 1986, p.
259).
PROBLEMA 3: Muitos eruditos da atualidade propõem que este livro de Salomão seja
simplesmente uma coleção de poemas de amor que foram agrupados com base na semelhança de
seus temas. Entretanto, este livro é aceito como tendo sido escrito totalmente por Salomão. Como
pode ser um livro escrito por Salomão, se na realidade ele foi uma livre coletânea de poemas?
SOLUÇÃO 3: Na verdade, o Cântico dos Cânticos não é uma livre coletânea de poemas de amor. A
estrutura do livro demonstra que se trata de uma única expressão poética do relacionamento entre
Salomão e sua esposa sulamita. A estrutura do Cântico dos Cânticos revela-se por meio da repetição
de certas frases-chaves:
FRASES DE ABERTURA FRASES DE FECHAMENTO
2:8 "Esta é a voz do meu amado; ei-lo aí, que já
vem..." (SBTB)
2:7 "Conjuro-vos, ó filhas de Jerusalém...”
3:6 “Que é isso que sobe...” 3:5 “Conjuro-vos, ó filhas de Jerusalém...”
6:10 “Quem é esta...” 6:9 “Viram-nas as filhas...” (SBTB)
8:5 “Quem é esta que sobe...” 8:4 “Conjuro-vos, ó filhas de Jerusalém...”
A estrutura deste livro pode ser ilustrada pelo seguinte esquema:
I. A mútua compaixão dos que se amam 1:2-2:7 A
II. Eventos anteriores ao casamento 2:8-3:5 B
III. Detalhes do casamento 3:6-6:9 C
IV. Eventos posteriores ao casamento 6:10-8:4 D
V. A mútua satisfação dos que se amam 8:5-8:14 E
A repetição de "A's" e de "B's" é um padrão que com freqüência era empregado pelos poetas
hebreus como um meio de estruturação do seu trabalho. Essa estrutura não apenas indica a unidade
do livro, mas fornece-nos a evidência de que foi um só autor que reuniu todas as partes do texto
dessa maneira, de forma a contar uma história verdadeira e comunicar uma mensagem. Esse relato
literal do amor de Salomão para com sua esposa ensina a santidade do amor humano no
relacionamento matrimonial (cf. Hb 13:4).

CÂNTICO DOS CÂNTICOS 1:2 - Por que tantas pessoas que dizem interpretar a Bíblia
literalmente "espiritualizam" o livro de Cântico dos Cânticos?

PROBLEMA: Os cristãos evangélicos defendem a interpretação literal da Bíblia. Insistem em
dizer que ela deve ser entendida em seu sentido normal, histórico e gramatical, e não num sentido
oculto, místico ou alegórico. Tal postura acarretaria, por exemplo, no caso dos Evangelhos, o
liberalismo, que negaria a realidade histórica da vida, morte e ressurreição de Cristo. Entretanto,
muitos evangélicos não tomam o Cântico dos Cânticos de forma literal, mas lhe dão um significado
alegórico ou espiritual. Não há uma contradição nisso?
SOLUÇÃO: Há basicamente três interpretações do Cântico dos Cânticos: a literal, a alegórica e a
prefigurativa.
De acordo com a interpretação literal, trata-se de uma história verdadeira sobre o amor do
rei Salomão por sua esposa e o amor dela por ele, embora os eruditos não concordem entre si a
respeito de quem era essa esposa, entre as 700 mulheres que ele teve, além das 300 concubinas (1
Rs 11:3). Alguns dizem que ela era a "filha do faraó" (1 Rs 11:1); outros sugerem que era uma
humilde virgem de nome Sulamita. Todos os que assumem esta posição, porém, declaram ser uma
história real do rei Salomão, sobre o caso de amor que ele teve com uma mulher. Acrescentam ainda
que o livro tem o propósito de exaltar a beleza, a pureza e a santidade do matrimônio.
Aqueles que optam pela interpretação alegórica do livro esquivam-se das partes da história
com descrições mais sensuais. Preferem ver um sentido mais profundo, tal como o amor de Yahveh
pelo seu povo Israel (cf. Oséias) ou, numa amplitude maior, o amor de Deus por seu povo em geral.
Muitos cristãos preferem uma interpretação prefigurativa deste Cântico, vendo o como uma
prefiguração ou um tipo de Cristo e o seu amor pela igreja (cf.Ef 5:28-32). Esta posição é também
contrária a tomar-se a história literalmente, insistindo, porém, que há um sentido espiritual mais
profundo.
Qualquer que seja a aplicação que esta história de amor possa ter a respeito do
relacionamento de Deus com o seu povo, ou do amor de Cristo pela sua igreja, a interpretação
literal parece ser a melhor devido a duas razões básicas: Primeiro: é inconsistente alegorizar esta
história e ter uma posição firme quanto a considerar os Evangelhos e outras partes das Escrituras de
forma literal. Segundo: o entendimento literal não contradiz nenhum outro ensino das Escrituras;
pelo contrário, os demais ensinos são complementados dessa forma.
Deus instituiu o casamento (Gn 2:23-24). Deus criou o sexo e o deu aos seres humanos para
desfrutá-lo dentro dos limites do matrimônio (Gn 1:27; Pv 5:17-19). Paulo declarou que o sexo
deve ser exercido apenas no casamento monogâmico (1 Co 7:1-5). Timóteo foi informado de que o
sexo dentro do casamento não deveria ser proibido (1 Tm 4:1-4), e que Deus "tudo nos proporciona
ricamente para nosso aprazimento" (1 Tm 6:17). O Cântico dos Cânticos de Salomão é um belo
exemplo de um romance entre duas pessoas que verdadeiramente existiram, o qual exalta a visão
bíblica do sexo e do casamento.
Como o casamento, de acordo com Paulo, é uma figura do amor de Cristo por sua noiva, a
Igreja, não há razão por que não possamos considerar esta história real de amor como uma
ilustração do amor de Deus. Entretanto, dizer que a história não é literalmente verdadeira, ou que
ela é um tipo de previsão do amor de Cristo pela Igreja, isso vai além do que o texto está dizendo.

CÂNTICO DOS CÂNTICOS 6:8 - Por que são mencionadas apenas 140 esposas e concubinas
de Salomão, se ele tinha 1.000?

PROBLEMA: Neste versículo é dito que Salomão tinha apenas 140 esposas e concubinas, mas 1
Reis 11:3 dá o número de 1.000.
SOLUÇÃO: Estas duas passagens podem referir-se a duas épocas diferentes na vida de Salomão, o
número menor referindo-se à época anterior. Ou então pode ser que havia diferentes modos de
contar suas mulheres. O texto de 1 Reis 11:3 na realidade não diz que ele tinha setecentas mulheres,
mas "setecentas mulheres, princesas". Em outras palavras, muitas dessas correspondiam mais a
alianças políticas do que a reais casamentos. Além disso, o Cântico dos Cânticos menciona
"virgens, sem número" (Ct 6:8) como parte do harém de Salomão. Tal afirmação assim genérica
pode muito bem explicar o total de 1.000 mencionado em 1 Reis 11.

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