quarta-feira, 6 de março de 2013

Manual de dificuldades bíblicas- Marcos 1


MARCOS



MARCOS 1:1 - Por que Marcos não dá nenhuma genealogia de Jesus, como o fazem Mateus e
Lucas?
PROBLEMA: Tanto Mateus (capítulo 1) como Lucas (capítulo 3) mencionam os ancestrais de
Jesus (veja Mt 1:1). Entretanto, Marcos não fornece genealogia alguma. Por que tal omissão?
SOLUÇÃO: Marcos apresenta Cristo como um servo, e servos não necessitam de genealogia. O
público romano, a quem Marcos direcionou o seu Evangelho, não tinha interesse em saber de onde
um servo tinha vindo, mas sim em saber o que ele poderia fazer.
Diferentemente do público romano de Marcos, o público-alvo judeu de Mateus esperava
pelo Messias, o Rei. Assim, Mateus dá os antecedentes de Jesus, até suas raízes judaicas como
Filho do rei Davi (Mt 1:1). Lucas também apresenta Cristo como o homem perfeito, citando os
ancestrais de Cristo até o primeiro homem, Adão (Lc 3:38).
João, por outro lado, apresenta Cristo como o Filho de Deus. Portanto, ele o aponta para a
eternidade com o Pai.
Considere o seguinte quadro comparativo dos quatro Evangelhos, que explica por que Marcos não
precisava apresentar a genealogia de Jesus.
Cristo é
apresentado
como
Rei Servo Homem Deus
Seus
antecedentes
mostram
Quem é Rei
(filho de Davi)
(São
anônimos)
Sua
humanidade
Sua divindade
MARCOS 1:2 - Como se pode justificar o erro de Marcos na citação dessa profecia do AT?
PROBLEMA: Marcos comete alguns erros ao citar essa profecia de Malaquias, como demonstram
as palavras em itálico:
MALAQUIAS 3:1
"Eis que eu envio o meu
mensageiro, que preparará
o caminho diante de mim".
MARCOS 1:2
"Eis aí envio diante da tua face o
meu mensageiro, o qual preparará o
teu caminho."
SOLUÇÃO: Em primeiro lugar, deve-se salientar que, apesar da alteração de palavras, o sentido
original é mantido. Em vista de um dos princípios fundamentais de compreensão dos textos difíceis
(veja Introdução), "uma citação não tem de ser uma repetição exata do que está escrito". Contanto
que o sentido seja mantido, as palavras podem ser diferentes.
Em segundo lugar, nesse caso, Marcos simplesmente reforça o sentido acrescentando
"diante da tua face". Isso está implícito na passagem original, mas é explicitado no livro de Marcos.
Em terceiro lugar, a alteração de "mim" (primeira pessoa) para "teu" (segunda pessoa) é
necessária porque é Deus quem está falando na passagem de Malaquias, ao passo que Marcos fala
acerca de Deus. Se ele não tivesse feito esta alteração, ele teria alterado o significado.
MARCOS 2:26 - Jesus não se enganou, quando se referiu a Abiatar como sendo sumo
sacerdote, em lugar de Aimeleque?
PROBLEMA: Jesus disse que quando Davi comeu os pães sagrados, Abiatar era o sumo sacerdote;
contudo, 1 Samuel 21:1-6 menciona que o sumo sacerdote naquele tempo era Aimeleque.
SOLUÇÃO: O livro de 1 Samuel está correto quando afirma que o sumo sacerdote era Aimeleque.
Por outro lado, Jesus também não incidiu em erro. Olhando com maior cuidado as palavras de
Jesus, vemos que ele empregou as palavras "no tempo do sumo sacerdote Abiatar" (v. 26), o que
não implica necessariamente que Abiatar fosse o sumo sacerdote no momento em que Davi comeu
os pães sagrados.
Depois que Davi se encontrou com Aimeleque e comeu os pães, o rei Saul fez com que
matassem Aimeleque (1 Sm 22:17-19). Abiatar escapou, foi até Davi (v. 20) e mais tarde tomou o
lugar do sumo sacerdote. Portanto, mesmo tendo Abiatar sido feito sumo sacerdote depois do dia
em que Davi comeu os pães, ainda está correto falar dessa maneira. Além disso, Abiatar estava vivo
quando Davi fez aquilo, e logo em seguida, com a morte de seu pai, ele se tornou o sumo sacerdote.
Foi, portanto, no tempo de Abiatar, mas não durante o seu exercício do cargo.
MARCOS 5:1-20 - Quantos endemoninhados havia? Onde se processou a libertação?
(Veja os comentários de Mateus 8:28-34.)
MARCOS 6:5 - Se Jesus é Deus, por que não pôde fazer milagres nessa ocasião?
PROBLEMA: Antes de mais nada, a Bíblia descreve Jesus como sendo Deus (Jo 1:1), que tem
com o Pai "toda a autoridade... no céu e na terra" (Mt 28:18). Contudo, nesta ocasião, Jesus "não
pôde fazer ali nenhum milagre" (v. 5). Por que não pôde, se ele tem todo o poder?
SOLUÇÃO: Jesus é todo-poderoso como Deus, mas não todo-poderoso como homem. Na
condição de Deus-homem, Jesus tem tanto a natureza divina como a humana. O que ele pode fazer
numa natureza não é necessariamente o que pode fazer na outra. Por exemplo, como Deus, Jesus
nunca se cansou (Sl 121:4); mas como homem ele se cansou, sim cf. Jo 4:6).
Além disso, só pelo fato de possuir todo o poder, isso não significa que ele sempre quis
exercê-lo. O "não pôde" de Marcos 6:5 possui o significado "moral" e não "real", isto é, ele decidiu
não realizar milagres por causa da incredulidade deles" (Mc 6:6; Mt 13:58). Jesus não era alguém
que fazia espetáculos, nem ainda lançava pérolas aos porcos.
Assim, a necessidade nesse caso é moral, não metafísica. Ele tinha a capacidade de fazer
milagres lá, e de fato fez alguns (v. 5); mas recusou-se tão-somente a fazer mais, porque
considerava que seria um esforço em vão.
MARCOS 6:8 - Jesus ordenou aos discípulos que levassem um bordão, ou não?
(Veja a abordagem de Mateus 10:10.)
MARCOS 8:11-12 - Jesus se contradisse ao dizer que nenhum sinal seria dado? (Cf. Mt 12:38-
39.)
PROBLEMA: Em Marcos, os fariseus pediram um sinal a Jesus, mas ele disse que àquela geração
não seria dado sinal algum. Mas o relato de Mateus diz que Cristo respondeu afirmando que o sinal
do profeta Jonas lhe seria dado (a saber, a ressurreição de Jesus).
SOLUÇÃO: Primeiramente, o ponto principal nessa questão é que Cristo não quis atender o
pedido que eles fizeram de um sinal imediato. Jesus não disse em Mateus que o sinal do profeta
Jonas seria dado de imediato. Esse sinal (de sua morte e ressurreição) ocorreria mais tarde. Assim,
mesmo em Mateus ele não atendeu ao pedido dos fariseus.
Jesus recusava-se a fazer milagres apenas como espetáculo (Lc 23:8). Ele não lançava
"pérolas aos porcos". Entretanto, realizou milagres para confirmar que era o Messias (Jo 20:31), e a
ressurreição foi o milagre que coroou tal condição (cf. At 2:22-32).
Em segundo lugar, é evidente que em mais de uma ocasião Jesus foi solicitado a dar um
sinal. Lucas 11:16, 29-30 afirma que outros pediam dele um sinal do céu. Aqui em Lucas, Jesus
responde de forma semelhante à de Mateus 12. Novamente em Mateus 16:1-4, os fariseus pediram
um sinal de Jesus, ao que ele respondeu que sinal algum seria dado, a não ser o de Jonas, tal como
ele o fez no capítulo 12.
Assim, está claro que em outras ocasiões pediram a Jesus para dar um sinal e, a cada vez,
Jesus recusou-se a atender os pedidos imediatos deles. Os milagres são realizados segundo a
vontade de Deus, não de acordo com o querer dos homens (cf. Hb 2:4; 1 Co 12:11).
MARCOS 9:48 - Por que Jesus disse que no inferno os vermes não morreriam?
PROBLEMA: Jesus disse que o inferno é um lugar "onde não lhes morre o verme, nem o fogo se
apaga" (Mc 9:48). Mas o que vermes eternos têm que ver com o inferno?
SOLUÇÃO: Jesus não está falando de vermes da terra, nem de nenhum outro tipo de animal. Ele
está falando sobre o corpo humano. Observe que ele não diz: "onde o verme não morre", mas diz:
"onde não lhes morre o verme". O termo "lhes" refere-se aos homens que pecaram e morreram sem
arrependimento (cf. 9:42-47). "Verme" é simplesmente um modo de referir-se ao "verme humano",
ou a esta carcaça, conhecida como corpo.
Isso está de acordo com o contexto, em que Jesus está falando das partes do corpo, tais
como "mãos" e "pés" (9:43-45). Ele disse que não deveríamos temer os que podem matar o corpo
(os homens), mas não a alma; mas que, antes, temêssemos aquele (Deus) que tem poder para lançar
corpo e alma no inferno eterno (Lc 12:4-5; cf. Mc 9:34-48).
MARCOS 10:17-31 -Jesus negou que era Deus ao jovem rico?
(Veja os comentários de Mateus 19:16-30.)
MARCOS 10:35 - Quem veio falar com Jesus: a mãe de Tiago e João ou eles mesmos?
(Veja o que foi comentado sobre Mateus 20:20.)
MARCOS 10:46-52 - Jesus curou dois cegos ou apenas um?
(Veja os comentários de Mateus 20:29-34.)
MARCOS 11:2 - Foram dois os jumentos utilizados na entrada triunfal, ou foi apenas um?
(Veja o que foi comentado sobre Mateus 21:2.)
MARCOS 11:12-14,20-24 - Quando a figueira foi amaldiçoada por Jesus?
(Veja os comentários de Mateus 21:12-19.)
MARCOS 11:23-24 - Jesus prometeu dar-nos literalmente qualquer coisa que lhe pedirmos
com fé?
PROBLEMA: À primeira vista esse versículo parece estar dizendo que, se crermos, Deus nos
atenderá em qualquer pedido que lhe fizermos. Por outro lado, Paulo pediu a Deus por três vezes
que lhe fosse afastado aquele espinho da carne, e Deus recusou (2 Co 12:8-9).
SOLUÇÃO: Há limitações sobre o que Deus dará, indicadas tanto pelo contexto como por outros
textos e pelas leis da própria natureza de Deus e do universo.
Primeiro Deus não pode nos dar qualquer coisa. Há coisas que são realmente impossíveis.
Por exemplo, Deus não atenderá ao pedido de uma criatura para ser Deus. Nem pode atender a
quem peça que aprove um pecado que tenha cometido. Deus não nos dará uma pedra se lhe
pedirmos pão, nem nos dará uma serpente se lhe pedirmos um peixe (cf.Mt 7:9-10).
Segundo, o contexto da promessa de Jesus em Marcos 11 indica que ela não foi
incondicional, pois o versículo seguinte logo diz: "perdoai,... para que vosso Pai vos perdoe... mas,
se não perdoares, também vosso Pai... não vos perdoará". Assim, não há razão para acreditar que
Jesus pretendia que tomássemos a sua promessa ao pé da letra, de nos dar "tudo" que pedíssemos,
sem condição alguma.
Terceiro, todas as passagens difíceis devem ser interpretadas em harmonia com outras
passagens claras das Escrituras. E está claro que Deus não promete, por exemplo, curar todas as
pessoas por quem orarmos com fé. Paulo não foi curado, embora tenha orado ardentemente e com
fé (2 Co 12:8-9). Jesus ensinou que não foi a falta de fé daquele cego que impediu a sua cura, mas
explicou que ele tinha nascido cego "para que se manifestem nele as obras de Deus" (Jo 9:3).
Apesar da capacidade dada por Deus ao apóstolo Paulo para curar outros (At 28:9),
aparentemente ele não pôde curar, mais tarde, Epafrodito (Fp 2:25ss) nem Trófimo (2 Tm 4:20).
Com certeza não foi a falta de fé que trouxe a doença a Jó (Jó 1:1). Além disso, se a fé do recebedor
fosse a condição para que um milagre fosse recebido, então nenhum dos mortos que Jesus
ressuscitou teria voltado à vida, pois os mortos não podem crer!
Finalmente, quando se considera o restante das Escrituras, além da fé há muitas condições
colocadas na promessa de Deus para a resposta a uma oração. Temos de "permanecer nele" e
permitir que a sua Palavra permaneça em nós (Jo 15:7). Não podemos "pedir mal", segundo o nosso
egoísmo (Tg 4:3). Além disso, temos de pedir "segundo a sua vontade" (1 Jo 5:14). Até mesmo
Jesus orou: "Meu Pai, se possível, passe de mim este cálice! (Mt 26:39).
Com efeito, sempre essa condição - "se for da tua vontade" - tem de ser afirmada ou estar
implícita, exceto nas promessas incondicionais de Deus. Porque a oração não é um recurso
mediante o qual Deus nos serve. A oração não é um meio pelo qual conseguimos que toda a nossa
vontade se faça nos céus, mas um meio pelo qual Deus faz com que a sua vontade se faça na terra.

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