terça-feira, 5 de março de 2013

Manual de dificuldades bíblicas - Êxodo


ÊXODO

ÊXODO 1:15 - Como é que apenas duas parteiras puderam atender a tantas mulheres
hebréias?

PROBLEMA: De acordo com Êxodo 12:37 e Números 1-4, o número dos filhos de Israel quando
eles saíram do Egito era de cerca de 2 milhões de pessoas. Isso significa que deveriam ser centenas
de milhares de mulheres. Entretanto, Êxodo 1:15 afirma que Faraó falou com apenas duas parteiras
hebréias, que eram Sifrá e Puá. Como é que apenas duas parteiras poderiam dar conta de um
número tão grande de mulheres?
SOLUÇÃO: Faraó falou apenas com elas duas porque elas eram as líderes das parteiras das
mulheres hebréias. A história registra que a sociedade egípcia era altamente organizada. Havia
indivíduos que atuavam como supervisores em praticamente todas as profissões e ofícios. Uma boa
parte do comércio era regulamentado pelo governo, e os artesãos tinham de se sujeitar ao oficial do
governo de seu distrito. Foi dentro desse tipo de estrutura que os israelitas tiveram de indicar
aquelas duas mulheres para atuarem como superintendentes de um grande número de parteiras
hebréias (cf. Êx 18:24-25). Esse tipo de estrutura organizacional permitiu facilitar a interação com
os oficiais egípcios. Quando Faraó ou um oficial egípcio precisava comunicar alguma nova
disposição a um grupo profissional, isso era feito através de seus superintendentes.

ÊXODO 1:15-21 - Como Deus poderia abençoar as parteiras hebréias, se elas desobedeciam a
autoridade governamental (Faraó), estabelecida por Deus, e a ela mentiam?

PROBLEMA: A Bíblia declara que "não há autoridade que não proceda de Deus; e as autoridades
que existem foram por ele instituídas" (Rm 1.3:1). A Escritura diz também: "Os lábios mentirosos
são abomináveis ao Senhor" (Pv 12:22). Mas o Faraó (rei) do Egito tinha dado uma ordem direta às
parteiras hebréias para matarem os meninos hebreus recém-nascidos. "As parteiros, porém,
temeram a Deus, e não fizeram como lhes ordenara o rei do Egito, antes deixaram viver os
meninos" (Êx 1:17).
As parteiras não apenas desobedeceram a Faraó como também, quando ele as questionou a
respeito de suas ações, mentiram, dizendo: "É que as mulheres hebréias não são como as egípcias;
são vigorosas, e antes que lhes chegue a parteira já deram à luz os seus filhos" (Êx 1:19). Apesar
disso, Êxodo 1:20 afirma que Deus "fez bem às parteiras... ele lhes constituiu família"(Êx 1:20-21).
Como então Deus pôde abençoar as parteiras por desobediência e mentira?
SOLUÇÃO: Não há dúvida de que as parteiras desobedeceram a Faraó, por não matarem os
meninos hebreus recém-nascidos e por mentirem a Faraó com a história de que sempre chegavam
tarde demais para cumprirem as suas ordens. Não obstante, há uma justificativa moral para o que
elas fizeram. Primeiro, o dilema moral em que as parteiras se achavam era inevitável. Ou elas
obedeceriam à lei maior de Deus, ou obedeceriam à obrigação secundária de se sujeitarem a Faraó.
Em lugar de cometerem um deliberado infanticídio das crianças de seu próprio povo, as parteiras
decidiram desobedecer às ordens de Faraó.
Deus nos ordena que obedeçamos à autoridade governamental, mas ele nos ordena também
que não assassinemos ninguém (Êx 20:13). A salvação de vidas inocentes é uma obrigação maior do
que a obediência ao governo. Quando o governo nos ordena matar vítimas inocentes, não devemos
obedecer. Deus não considerou as parteiras responsáveis, nem assim ele nos tratará sempre que a
questão for não obedecer a uma obrigação menor para atender a uma lei maior (cf. At 4; Ap 13). No
caso das parteiras, a lei maior referia-se à preservação da vida dos recém-nascidos.
Segundo, o texto claramente afirma que Deus as abençoou "porque as parteiras temeram a
Deus" (Êx 1:21). E foi o temor que elas tiveram por Deus que as levou a fazer o que quer que fosse
necessário para salvar vidas inocentes. Assim, a falsa desculpa delas a Faraó foi uma parte essencial
do esforço que despenderam para salvar vidas.
Terceiro, a mentira delas é comparável com sua desobediência a Faraó, para salvar a vida de
recém-nascidos inocentes. Este era um caso em que as parteiras tiveram de optar entre mentir ou
serem compelidas a matar bebês inocentes. Aqui também elas decidiram obedecer à lei moral maior.
A obediência aos pais faz parte da lei moral (cf. Ef 6:1). Mas se um pai ou uma mãe dá ordens ao
filho para assassinar uma pessoa ou para adorar um ídolo, ele tem de recusar-se a obedecer. Jesus
enfatizou a necessidade de obedecer à lei moral superior quando disse: "Quem ama seu pai ou sua
mãe mais do que a mim não é digno de mim" (Mt 10:37).

ÊXODO 3:22 - Como um Deus todo-amoroso pôde ordenar que os hebreus despojassem os
egípcios de suas riquezas?

PROBLEMA: Êxodo 3:22 afirma: "e despojareis os egípcios". A Bíblia nos apresenta Deus como
sendo todo-amoroso. Entretanto, não parece ser um ato de amor esse o de mandar os hebreus
despojarem os egípcios.
SOLUÇÃO: Primeiro, afirmar que Deus ordenou que eles despojassem os egípcios é não perceber
bem o que o texto diz. Na verdade, Deus ordenou que os hebreus "pedissem" aos egípcios diversos
bens de valor, e ele lhes daria favor aos olhos dos egípcios. Assim, pedindo aos egípcios, eles não os
estavam despojando. Despojar ou saquear, nessa situação, significaria tomar as possessões deles por
meio da força. Mas por terem os hebreus pedido, e os egípcios dado voluntariamente, sem serem
forçados, o efeito seria o mesmo que se estes tivessem sido despojados.
Segundo, o termo usado nesta passagem não é a palavra usual para "despojar", mas indica a
entrega de alguma coisa ou de alguém. Esse termo foi usado aqui em sentido figurado. Foi Deus
que venceu os egípcios, e agora o seu povo é que despojaria o inimigo derrotado. Entretanto, esse
inimigo derrotado se dispôs a entregar o despojo da vitória ao povo hebreu, que se libertava.
Terceiro, mesmo que fosse tomado de forma literal, os presentes dados aos israelitas não
poderiam ser considerados como algo injusto, se for levado em conta que o povo de Israel
permanecera como escravo por vários séculos. Foi uma pequena compensação pelo tempo de
trabalho escravo no Egito.

ÊXODO 4:21 - Se foi Deus que endureceu o coração de Faraó, por que este foi então
considerado responsável?

PROBLEMA: A Bíblia cita Deus dizendo: "eu lhe endurecerei o coração [o coração de Faraó],
para que não deixe ir o povo". Se Deus endureceu o coração de Faraó, então este não pode ser
responsabilizado por seus atos, já que não os praticou segundo a sua própria vontade, mas por ter
sido forçado a isso (cf. 2 Co 9:7; 1 Pe 5:2).
SOLUÇÃO: Deus não endureceu o coração de Faraó contrariamente ao que o próprio Faraó por
sua livre vontade determinou. A Escritura deixa claro que Faraó endureceu o seu coração. Ela
declara que "o coração de Faraó se endureceu" (Êx 7:13), que Faraó "continuou de coração
endurecido" (Êx 8:15) e que "o coração de Faraó se endureceu"(Êx 8:19). Novamente, quando Deus
enviou a praga das moscas, "ainda esta vez endureceu Faraó o coração" (Êx 8:32). Esta frase, ou
uma equivalente, é repetida vez após vez (cf. Êx 9:7, 34-35). De fato, exceto quando Deus o que
aconteceria (Êx 4:21), Faraó foi quem endureceu o seu próprio coração em primeiro lugar (Êx 7:13;
8:15 ; 8:32 etc), e só mais tarde Deus o endureceu (cf. Êx 9:12; 10:1, 20, 27).
Além disso, o sentido em que Deus endureceu o coração de Faraó é semelhante ao modo
pelo qual o sol endurece o barro ou derrete a cera. Se Faraó tivesse sido receptivo às advertências de
Deus, o seu coração não teria sido endurecido por Deus. Mas quando Deus dava alívio de cada
praga, Faraó tomava vantagem da situação. "Vendo, porém, Faraó que havia alívio, continuou de
coração endurecido, e não os [a Moisés e Arão] ouviu, como o Senhor tinha dito" (Êx 8:15).
A questão pode ser resumida como se segue: Deus endurece o coração?
DEUS NÃO ENDURECE O CORAÇÃO DEUS ENDURECE O CORAÇÃO
Inicialmente Subseqüentemente
Diretamente Indiretamente
Contra o livre arbítrio da pessoa Por meio do próprio livre arbítrio
Como sua causa Como seu efeito
(Veja também a abordagem feita em Romanos 9:17.)

ÊXODO 4:24 - Com quem Deus se encontrou na estalagem, e por que quis matar essa pessoa?

PROBLEMA: Êxodo 4:24 afirma: "Estando Moisés no caminho, numa estalagem, encontrou-o o
Senhor, e o quis matar". Este versículo deixa claro que Moisés é quem estava ali, naquela
estalagem. Mas por que Deus quis matá-lo, já que ele o havia chamado para liderar a saída do povo
do Egito?
SOLUÇÃO: Primeiro, é claro que Moisés tinha sido escolhido pelo Senhor a fim de ser o
instrumento para libertar o povo de Israel da escravidão egípcia e do poder de Faraó. Mas, por fazer
parte do povo da aliança de Deus, Moisés era obrigado a circuncidar seus filhos no oitavo dia. Por
uma razão ou outra, Moisés não tinha realizado o rito da circuncisão no seu filho, que também fazia
parte do povo da aliança do Senhor. Não era possível Deus permitir que o libertador por ele
escolhido a fim de representá-lo para o povo de Israel não cumprisse os termos da aliança.
Aparentemente, Deus tomou essa drástica medida para fazer com que Moisés lhe obedecesse,
sabendo que Moisés por si não se dispunha a ir contra os desejos de sua mulher Zípora. Ela fez
então a circuncisão, talvez porque Moisés estivesse impossibilitado, devido a uma enfermidade que
o Senhor tinha trazido sobre ele. Assim que a circuncisão foi feita, o Senhor não mais procurou
matar Moisés.
Segundo, é óbvio que o Senhor poderia ter matado Moisés de repente, se esse fosse o seu
intento nesse caso. Deus certamente possuía o poder para fazer isso de imediato. O que aconteceu
indica claramente que o propósito de Deus era fazer com que Moisés cumprisse os seus deveres.
Deus obviamente não queria matá-lo. O que pretendia era que Moisés obedecesse a sua lei e tivesse
total compromisso com ela, já que ele era aquele que estava para se tornar o grande instrumento de
Deus, por meio de quem o Senhor iria dar a sua lei.

ÊXODO 5:2 - Quem foi o Faraó de Êxodo?

PROBLEMA: A posição predominante dos eruditos nos dias de hoje é que o Faraó de Êxodo era
Ramsés II. Se assim for, isso significa que o êxodo ocorreu aproximadamente entre 1270 e 1260
a.C. Entretanto, de várias referências da Bíblia (Jz 11:26; 1 Rs 6:1; At 13:19-20), a data do êxodo é
inferida como sendo 1447 a.C. Assim, de acordo com o sistema de datas normalmente aceito, o
Faraó de Êxodo seria Amenotep II. Quem foi de fato o Faraó mencionado no livro de Êxodo, e
quando foi que o êxodo ocorreu?
SOLUÇÃO: Conquanto muitos eruditos da atualidade tenham proposto uma data posterior para o
evento do êxodo, de 1270 a 1260 a.C, há evidências suficientes para se dizer que não é necessário
aceitar essa data, Uma explicação alternativa nos fornece um melhor relato de todos os dados
históricos, e coloca o êxodo por volta de 1447 a.C.
Primeiro, as datas bíblicas para o êxodo o colocam nos anos em torno de 1400 a.C, já que 1 Reis 6:1
declara que ele ocorreu 480 anos antes do quarto ano do reinado de Salomão (o que foi por volta de
967 a.C). Isso colocaria o êxodo por volta de 1447 a.C, de acordo com Juízes 11:26, que afirma que
Israel passou 300 anos na terra, até o tempo de Jefté (o que foi cerca de 1000 a.C).
De igual modo, Atos 13:20 diz ter havido 450 anos de juízes, de Moisés a Samuel, sendo que este
último viveu por volta de 1000 a.C. O mesmo ocorre com respeito aos 430 anos mencionados em
Gálatas 3:17 (veja os comentários deste versículo), abrangendo o período de 1800 a 1450 a.C. (de
Jacó a Moisés). O mesmo número é usado em Êxodo 12:40. Todas essas passagens indicam uma
data em torno de 1400 a.C, não em torno de 1200 a.C, como os críticos afirmam.
Segundo, John Bimson e David Livingston propuseram uma revisão da data
tradicionalmente atribuída ao fim da Idade do Bronze Média e início da Idade do Bronze Avançada,
de 1550 para um pouco antes de 1400 a.C. A Idade do Bronze Média caracterizava-se por cidades
grandemente fortificadas, cuja descrição se enquadra muito bem com o relato que os espias
trouxeram a Moisés (Dt 1:28). Isso significa que a conquista de Canaã se deu por volta de 1400 a.C.
Como as Escrituras afirmam que Israel vagueou pelo deserto por cerca de 40 anos, isso dataria o
êxodo por volta de 1440 a.C, totalmente de acordo com a cronologia bíblica. Se aceitarmos os
registros tradicionais dos reinos dos Faraós, isso significaria que o Faraó do livro de Êxodo foi
Amenotep II, que reinou de cerca de 1450 a 1425 a.C.
Terceiro, outra possível solução, conhecida como a revisão de Velikovsky-Courville, propõe
uma revisão na cronologia tradicional dos reinados dos Faraós. Velikovsky e Courville afirmam que
há 600 anos a mais na cronologia dos reis do Egito. Evidências arqueológicas podem ser juntadas
para substanciar esta proposta que de novo data o êxodo em 1440 a.C. De acordo com este ponto de
vista, o Faraó nesse tempo era o rei Tom. Isto se harmoniza com a afirmação de Êxodo 1:11, de que
os israelitas foram escravizados para construírem a cidade chamada Pitom (residência de Tom).
Quando a cronologia bíblica é tomada como padrão, todas as evidências arqueológicas e históricas
se encaixam direitinho. (Veja Geisler e Brooks, When Skeptics Ask [Quando os Cépticos
Questionam], Victor Books, 1990, cap. 9.)

ÊXODO 6:3 - Deus já era conhecido pelo nome "Senhor" (Jeová ou Yahveh), mesmo antes do
tempo de Moisés?

PROBLEMA: Disse Deus a Moisés: "Apareci a Abraão, a Isaque, e a Jacó, como o Deus Todo-
Poderoso; mas pelo meu nome, O Senhor, não lhes fui conhecido" (Êx 6:3). Entretanto, a palavra
"Senhor" [Jeová, Yahveh] aparece em Gênesis diversas vezes, tanto em combinação com o termo
"Deus": como "Senhor Deus" (Gn 2:4, 5, 7, 8, 9,15 etc.) e, isoladamente, como "Senhor" (Gn 4:1,
3,4, 6,9 etc).
SOLUÇÃO: Esta dificuldade pode ser explicada de várias maneiras. Alguns crêem que esta palavra
- "Senhor" - foi introduzida em Gênesis na forma de uma antecipação. Outros sustentam que o
pleno significado do nome não era conhecido previamente, muito embora já estivesse em uso. Ou,
talvez, algum traço da personalidade do Deus que é fiel à sua aliança, indicado pelo nome "Senhor"
[Jeová, Yahveh], ainda não tivesse sido revelado, até o tempo de Moisés. Outros ainda pensam que
Moisés (ou um editor posterior) colocou este nome no texto de Gênesis retrospectivamente, depois
de ele ter sido escrito. Seria como um biógrafo daquele famoso pugilista referindo-se à infância de
Muhammad Ali, embora o seu nome na realidade fosse Cassius Clay naquela época. Corroborando
com isso, há o fato de que o sufixo "-ah"(que aparece em "Jeovah"), que se apõe a nomes,
geralmente não aparece em nomes anteriores ao tempo de Moisés.

ÊXODO 6:9 - Os filhos de Israel ouviram Moisés ou desprezaram suas palavras?

PROBLEMA: O texto afirma que "eles não atenderam a Moisés". Contudo, anteriormente (em Êx
4:31) é dito que "o povo creu" [em Moisés], e até mesmo "inclinaram-se" e "adoraram" a Deus.
SOLUÇÃO: No início, eles aparentemente receberam Moisés de boa vontade, mas como não
foram libertados de mediato, desanimaram, impacientaram-se e não queriam mais ouvi-lo.

ÊXODO 6:10-13 - Moisés foi chamado por Deus no Egito ou em Midiã?

PROBLEMA: Em Êxodo 3:10, Deus revelou-se a Moisés e o comissionou a liderar a saída de
Israel do Egito (cf. 4:19). Entretanto, Êxodo 6:10-11 declara que Moisés estava no deserto de Midiã
quando Deus lhe disse para ir até o Faraó e pedir a libertação de Israel.
SOLUÇÃO: Moisés recebeu a sua comissão em Êxodo 3-4, mas por causa da rejeição de Faraó (no
capítulo 5), acrescida ao fato da relutância inicial de Moisés diante de Deus (cf. 4:1,10), foi
necessário que Deus o encorajasse e reconfirmasse o seu chamado, em Êxodo 6.

ÊXODO 6:16-20 - Como se explica que o povo de Israel tenha permanecido no Egito por 430
anos, se houve apenas três gerações entre Levi e Moisés?

PROBLEMA: Êxodo 6:16-20 indica que houve apenas três gerações entre Levi, filho de Jacó, e
Moisés. Entretanto, Gaiatas 3:17 mostra que Israel permaneceu no Egito por 430 anos. Como pode
ter havido apenas três gerações entre Levi, que desceu ao Egito no início desse período de 430 anos,
e Moisés, que libertou Israel do Egito no final desses 430 anos?
SOLUÇÃO: Primeiro, era uma prática comum no antigo Oriente registrar genealogias de acordo
com a tribo ou clã familiar. Nessa forma de registro genealógico, muitas gerações poderiam ser
omitidas pelo fato talvez de algumas pessoas serem de menor importância na árvore genealógica.
O hebraico não possuía uma palavra que correspondesse ao nosso termo "avô" ou "bisavô",
ou "neto" ou "bisneto". Conseqüentemente, quando Abraão é referido como "nosso pai", o único
termo hebraico capaz de indicar ser ele ancestral é o termo "pai". O mesmo se dá com a palavra
"filho". Por exemplo, Êxodo 6:16 afirma: "São estes os nomes dos filhos de Levi... Gérson, Coate e
Merari". Por tradição, estes são considerados realmente filhos de Levi. Entretanto, quando Êxodo
6:18 declara: "Os filhos de Coate: Anrão, Jizar, Hebrom e Uziel", Coate é dado como o cabeça
daquele ramo da tribo de Levi conhecido como "os coatitas". Anrão, Jizar, Hebrom e Uziel
provavelmente não eram filhos diretos de Coate, mas descendentes deste. A língua hebraica
empregou o termo "filho" com o sentido de "descendente".
Segundo, de acordo com Números 3:28, o censo da família dos coatitas registrou 8.600
pessoas, de um mês de idade para cima. Se tivesse havido apenas três gerações entre Levi e Moisés,
isto significaria que "os filhos de Coate", Anrão, Jizar, Hebrom e Uziel teriam de ter tido mais de
2.000 filhos cada um. Obviamente, ou o Anrão mencionado no versículo 18 como filho de Coate
não era o pai imediato de Moisés - assim como também não era o mesmo Anrão mencionado no
versículo 20 -, ou então houve de fato muitos outros descendentes de Coate que simplesmente não
estão relacionados nestes versículos, porque tal informação não é essencial dentro do contexto. De
qualquer modo, é claro que houve mais do que três gerações entre Levi e Moisés.

ÊXODO 6:26-27 - É verdade que alguém mais, além de Moisés, escreveu estes versículos?

PROBLEMA: As referências a Moisés e Arão nos versículos 26 e 27 estão escritas na terceira
pessoa: "São estes Arão e Moisés" e "São estes os que falaram..." Se Moisés foi o autor desta
passagem, por que ele não falou de si mesmo usando a primeira pessoa?
SOLUÇÃO: Esta passagem, que começa no versículo 14 do capítulo 6, é um relato objetivo e
histórico das genealogias dos ancestrais de Moisés e Arão. Nesse tipo de redação, o costume é o
autor, quando faz referência a si mesmo, usar a terceira pessoa. Muitos escritos antigos seguem essa
maneira de relatar fatos históricos, tais como Gallic Wars (Guerras Gaulesas) e Civil Wars (Guerras
Civis), de Júlio César. Com efeito, ficaria algo estranho se, no meio deste registro histórico, Moisés
tivesse escrito: "Foi a Arão e a mim que o Senhor disse..."; ou: "Arão e eu fomos falar com Faraó..."
Para as futuras gerações dos leitores hebreus, Moisés queria que o seu registro genealógico ficasse
bem claro, de forma que ninguém se equivocasse quanto à identidade e origem daquele que Deus
escolhera para libertar Israel da escravidão do Egito.

ÊXODO 7:11 - Como é que os sábios e encantadores de Faraó puderam realizar os mesmos
atos de poder que Deus ordenara a Moisés para fazer?

PROBLEMA: Várias passagens em Êxodo (7:11,22; 8:7) declaram que os sábios, encantadores e
magos de Faraó, com os seus encantamentos, reproduziram os mesmos feitos que Deus ordenara a
Moisés e Arão para realizar. Entretanto, Moisés e Arão afirmaram que tinham sido
enviados pelo Senhor Deus. Como puderam então aqueles homens realizar os mesmos atos de poder
que Moisés e Arão fizeram pelo poder de Deus?
SOLUÇÃO: A Bíblia indica que uma das táticas de Satanás no seu esforço de enganar a
humanidade é empregar falsos milagres (veja Ap 16:14). Êxodo 7:11 afirma: "Faraó, porém,
mandou vir os sábios e encantadores; e eles, os sábios do Egito, fizeram também o mesmo com as
suas ciências ocultas". Cada um dos versículos semelhantes afirma isso com palavras equivalentes.
A passagem declara que os feitos dos magos de Faraó eram realizados "com as suas ciências
ocultas", com seus encantamentos.
Alguns comentaristas dizem que o que os magos fizeram eram apenas fraudes. Talvez os
magos tivessem encantado cobras, tornando-as enrijecidas, deixando-as com a aparência de varas.
Quando lançadas ao chão, elas teriam saído do seu transe, movendo-se como serpentes. Alguns
dizem que aqueles foram atos de Satanás, que realmente fez com que as varas dos magos se
tornassem cobras. Isso, entretanto, não é plausível, em vista do fato de que apenas Deus pode criar
vida, como até mesmo os magos posteriormente reconheceram (Êx 8:18-19).
Qualquer que seja a explicação que se possa dar àqueles feitos, um ponto em comum
prevalece em cada relato e é encontrado no próprio texto. Está claro que, seja por que poder aqueles
atos foram realizados, não foi pelo poder de Deus. Eles foram realizados por meio de "suas ciências
ocultas". O propósito de tais atos era convencer Faraó de que os seus magos possuíam tanto poder
quanto Moisés e Arão, e que não era necessário que Faraó se rendesse ao seu pedido para deixar ir o
povo de Israel. Isso funcionou pelo menos nos três primeiros encontros (a vara de Arão, a praga do
sangue e a praga das rãs). Entretanto, quando Moisés e Arão, pelo poder de Deus, fizeram aparecer
piolhos do pó da terra, os magos não conseguiram realizar esse milagre. Puderam apenas dizer:
"Isto é o dedo de Deus" (Êx 8:19).
Há vários pontos pelos quais se pode discernir a diferença entre um sinal satânico e um
milagre de Deus:
MILAGRE DE DEUS SINAL SATÂNICO
Sobrenatural Fora do normal
Ligado à verdade Ligado ao erro
Associado com o bem Associado com o mal
Nunca relacionado com o ocultismo Normalmente associado com o ocultismo
Sempre bem-sucedido Às vezes falha
Estas diferenças podem ser vistas nas passagens de Êxodo mencionadas . Embora os magos
aparentemente puderam transformar suas varas em serpentes, suas varas foram devoradas pela de
Arão, indicando superioridade por parte deste. Embora os magos tenham podido transformar água
em sangue, eles não conseguiram reverter o processo. Embora eles tenham podido fazer aparecer
rãs, não puderam livrar-se delas. Os seus atos foram atos fora do normal, mas não sobrenaturais.
Conquanto os magos não tenham podido copiar alguns dos milagres de Moisés e Arão, seu
propósito estava ligado ao engano. Basicamente eles copiaram os milagres feitos pelos homens
escolhidos por Deus com o objetivo de convencer Faraó de que o Deus dos hebreus não era mais
poderoso do que os deuses do Egito. Embora os magos de Faraó tenham sido capazes de copiar os
três primeiros milagres realizados por Deus, através de Moisés e Arão, chegou um momento em que
os seus encantamentos não mais foram capazes de imitar o poder de Deus.

ÊXODO 7:19 - Como Israel pôde escapar desse juízo, se ele veio para toda a terra do Egito?

PROBLEMA: Diversas vezes, no relato das pragas, a Escritura afirma que o juízo cairia sobre
"toda a terra do Egito" (7:19; 8:16, 24; 9:22). Entretanto, outras passagens declaram que Deus
protegeu Israel dos efeitos das diferentes pragas (8:22). Não é uma contradição algumas passagens
dizerem que as pragas afetariam toda a terra do Egito, e outras indicarem que Israel não foi atingida
por essas pragas?
SOLUÇÃO: No hebraico, a palavra normalmente traduzida por "todo" ou "toda" não tem um
sentido necessariamente absoluto. O contexto é que determina se o termo deve ser entendido como
absoluto ou não. Deus disse a Moisés que este se certificasse de que Faraó sabia que Israel não
estava sendo atingido pelas pragas que estavam sendo trazidas sobre o Egito. "Dize-lhe: ...Naquele
dia, separarei a terra de Gósen, em que habita o meu povo, para que nela não haja enxames de
moscas, e saibas que eu sou o Senhor no meio desta terra" (Êx 8:20,22).
O versículo 24 diz: "E vieram grandes enxames de moscas à casa de Faraó, e às casas dos
seus oficiais, e sobre toda a terra do Egito". Entretanto, de acordo com a mensagem de Deus dada a
Faraó, isso não afetou a terra de Gósen nem os israelitas. Encontramos isso de novo noutra
passagem (9:6), que afirma: "E o Senhor o fez no dia seguinte, e todo o rebanho dos egípcios
morreu; porém, do rebanho dos israelitas não morreu nem um".
No contexto dos juízos de Deus sobre o Egito, há uma clara distinção entre o povo de Faraó
e o povo de Deus. Não há contradição entre essas referências, pois os juízos de Deus foram sobre
toda a terra dos egípcios, sobre todo o povo de Faraó, mas Deus separou e protegeu o seu povo
desses terríveis eventos.

ÊXODO 7:20 - Se Moisés transformou toda água em sangue, onde os magos conseguiram
água para realizar esse mesmo prodígio?

PROBLEMA: Êxodo 7:20 afirma que "toda a água do rio se tornou em sangue" por meio de
Moisés. Mas logo em seguida, no versículo 22, o texto diz que os magos do Egito realizaram o
mesmo feito, o que seria impossível se de fato Moisés tivesse transformado toda água em sangue.
SOLUÇÃO: Primeiro, deve-se observar que o termo "toda" não precisa ser entendido com um
sentido absoluto, mas tendo o sentido popular de "a maior parte". Além disso, não é dito que Moisés
tenha transformado toda água em sangue, mas somente toda "a água do rio" (Êx 7:20). Ainda havia
poços de água que não tinham sido atingidos. Também, parte da água pode ter sido filtrada pela
areia nas margens do rio. Isto pode explicar por que é dito que os egípcios "cavaram junto ao rio
para encontrar água que beber" (v. 24), tendo a areia servido como um filtro natural da água do rio.

ÊXODO 9:19-21 - Se todo o gado morrera, como então houve sobreviventes?

PROBLEMA: Êxodo 9:6 afirma que "todo o rebanho dos egípcios morreu" na quinta praga.
Contudo, em alguns versículos depois é dada uma instrução para que eles recolhessem o seu gado e
tudo o que tinham no campo (v. 19). Mas se todo o rebanho morrera, como é que houve
sobreviventes?
SOLUÇÃO: Em primeiro lugar, o termo "todo" com freqüência é usado com o sentido de "a maior
parte". Ademais, a praga aparentemente foi limitada ao gado "no campo" (v. 3). Os animais nos
currais não teriam sido atingidos. Finalmente, a palavra "gado" geralmente não se refere a cavalos,
jumentos e camelos, que devem ter sido parte do "rebanho" que foi poupado.
Em vista desses fatores, não há contradição entre as passagens. Nem mesmo se pode presumir,
tendo-se uma postura racional, que o mesmo autor, dentro do mesmo capítulo, tendo dado uma
descrição tão impressionante do que aconteceu, fosse contradizer-se.

ÊXODO 11:3 - Como pôde Moisés ter escrito tais palavras de auto-elogio?
(Veja os comentários de Números 12:3.)

ÊXODO 12:29 - Se Deus é amor, como pôde ele matar os primogênitos de todos os egípcios?
PROBLEMA: Êxodo 12:29-30 descreve aquela terrível noite quando Deus feriu, na terra do Egito,
"desde o primogênito de Faraó, que se assentava no seu trono, até o primogênito do cativo que
estava na enxovia; e todos os primogênitos dos animais". Esse juízo miraculoso foi levado ao Egito
porque Faraó se recusara a deixar o povo ir. Entretanto, o povo do Egito não tinha controle sobre os
atos de Faraó. Como um Deus de amor poderia então ferir os primogênitos dos egípcios, que não
eram responsáveis pelas decisões de Faraó?
SOLUÇÃO: Primeiro, não é certo presumir que, pelo fato de o povo egípcio não ter tido controle
sobre as decisões de Faraó, eles eram completamente inocentes. Cada pessoa egípcia teve, de certo,
a oportunidade de, por toda a dura prova dada por Deus sobre o Egito, fugir para Moisés e os
hebreus atrás de proteção daqueles juízos. De fato, Êxodo 12:38 afirma que "subiu também com
eles [os filhos de Israel] um misto de gente".
Sem dúvida, muitos egípcios juntaram-se aos hebreus em decorrência dos juízos de Deus. O
fato de que a maioria não quis se voltar ao Deus vivo, mesmo depois daquelas nove pragas
anteriores, indica que eles não eram apenas observadores inocentes.
Segundo, simplesmente porque o povo egípcio não mudou o pensamento de Faraó, não quer
dizer que esse povo não poderia tê-lo feito. Embora o poder do povo seja severamente limitado
num regime ditatorial, como o do Egito, pode-se admitir que o povo poderia ter se revoltado, ou
para forçar Faraó a mudar de idéia, ou para destituí-lo. De fato, Êxodo 12:33 afirma: "Os egípcios
apertavam com o povo, apressando-se em lançá-los fora da terra".
Até esse ponto, o povo egípcio aparentemente não fez esforço algum para apressar a saída
dos hebreus daquela terra. Os egípcios obviamente estavam contentes em deixar essas questões nas
mãos do seu rei. Por agirem assim, eles não eram inocentes das decisões que foram tomadas pelo
seu rei. O juízo de Deus não se dirigiu somente a Faraó ou aos chefes de estado da terra, mas ao
Egito como um todo, já que eles eram igualmente responsáveis pela opressão e escravidão imposta
ao povo de Deus.

ÊXODO 14:21-29 - Como foi que dois milhões de pessoas puderam atravessar o Mar
Vermelho num tempo tão curto?
PROBLEMA: De acordo com o relato da travessia do Mar Vermelho, toda aquela multidão de
israelitas fugitivos deve ter tido não mais do que 24 horas para atravessar a parte do Mar Vermelho
que Deus preparou para que por ela passassem. Entretanto, de acordo com os números disponíveis,
havia cerca de dois milhões de pessoas (veja Nm 1:45-46). Mas, para uma multidão desse tamanho,
24 horas não seriam suficientes para a travessia.
SOLUÇÃO: Primeiro, embora a passagem possa dar a idéia de que o tempo necessário para que a
nação de Israel fizesse aquela travessia fosse curto, esta não é uma conclusão obrigatória. O texto
afirma que Deus fez com que um forte vento oriental soprasse e recuasse as água "toda aquela
noite" (Êx 14:21).
O versículo 22 parece indicar que logo na manhã seguinte a multidão de israelitas começou
a caminhada pelo leito feito dentro do mar. O versículo 24 afirma também: "Na vigília da manhã, o
Senhor... viu o acampamento dos egípcios". Finalmente, de acordo com o versículo 26, Deus disse a
Moisés: "Estende a mão sobre o mar, para que as águas se voltem sobre os egípcios". Entretanto,
não há referência alguma sobre o tempo em que este comando foi dado, e não é obrigatória a
conclusão de que Israel tenha completado a ultrapassagem naquela mesma manhã.
Segundo, mesmo que admitamos que a travessia tenha levado 24 horas, isso não é assim tão
impossível como pode parecer. A passagem não diz que o povo cruzou o mar numa fila indiana, ou
que tenham tido de passar por uma faixa de terra seca da largura de uma rodovia dos nossos dias.
De fato, é muito mais provável que Deus tenha aberto uma secção de alguns quilômetros de largura
no mar. Isso certamente estaria de acordo com a situação, já que é muito provável que o
acampamento dos israelitas nas margens do Mar Vermelho se estendesse por uns cinco quilômetros.
Quando chegou a hora de o povo marchar sobre solo seco, provavelmente eles se moveram como
uma grande multidão, avançando como um exército que estivesse invadindo as linhas do inimigo.
Em Êxodo 13:18, o mar é chamado de Mar Vermelho. Em hebraico é yam suph, que pode
ser traduzido por "Mar dos juncos". Esta era possivelmente uma referência a uma parte do mar bem
mais ao norte do que hoje se chama Golfo de Suez. Parece ser este o caso, por várias razões.
Primeiro, o Golfo de Suez não era conhecido por ter juncos. Segundo, ele é muito mais ao sul do
que Pi-Hairote e Migdol, onde Israel acampou junto ao mar, de acordo com o versículo 2. Terceiro,
para que Israel atingisse a extremidade mais ao norte do Golfo de Suez, eles teriam de ter
atravessado uma grande extensão de deserto, e tal tipo de jornada não é indicado no texto.
O Mar de juncos não era simplesmente uma extensão de terra pantanosa e rasa. Isto é
evidente por pelo menos duas razões. Primeiro, o versículo 22 afirma que quando o mar foi
repartido, "as águas lhes foram qual muro à sua direita e à sua esquerda". Isso obviamente não
aconteceria se o mar fosse apenas um pântano. Segundo, depois que os egípcios entraram pelo mar
em perseguição a Israel, Deus instruiu Moisés a estender a mão sobre o mar, e as águas voltaram ao
seu nível normal e "cobriram os carros e os cavalarianos de todo o exército de Faraó, que os haviam
seguido no mar" (14:28). Esta não teria sido uma descrição correta se o "Mar de juncos" fosse
simplesmente uma extensão de terra pantanosa e rasa.
É possível que o mar tenha sido o que se conhecia como o Lago Ballah. Este lago, embora
tenha desaparecido em decorrência da construção do Canal de Suez, provavelmente não tinha mais
do que 20 ou 25 quilômetros de largura. É claro que não haveria problema algum para que toda
aquela multidão pudesse atravessar esta distância em um dia.
Mesmo que suponhamos que Israel tenha atravessado pela parte mais larga do Golfo de
Suez, isto também não é um problema. Se admitirmos que a extensão atual do golfo é comparável
com a sua extensão naquele tempo, é provável que ele tivesse, em média, não mais do que 65
quilômetros. Teria sido necessário caminhar a uma velocidade inferior a 3 quilômetros por hora para
cruzar aquela extensão de 65 quilômetros em 24 horas.

ÊXODO 20:4 - Por que Deus deu o mandamento de não fazer imagens de escultura, se ele
mesmo ordenou que fossem feitos dois querubins para a Arca da Aliança?
(Veja os comentários de Êx 25:18.)

ÊXODO 20:5a - Deus fica com ciúmes?
PROBLEMA: A Bíblia não apenas diz que Deus é um "Deus zeloso", mas declara também que "o
nome do Senhor é Zeloso; sim, Deus zeloso é ele" (Êx 34:14). Ora, ser zeloso não é ter ciúmes? E o
ciúme não é pecado? Assim, se Deus é absolutamente santo, então como pode ser ele ciumento?
SOLUÇÃO: Deus é "ciumento" no bom sentido da palavra; ou melhor, ele é zeloso, como o texto
de nossa versão diz, e não "ciumento" no sentido comum da palavra. Ele é zeloso pelo amor e
devoção do seu povo (cf. Êx 20:5). Paulo falou de um "zelo de Deus" (2 Co 11:2). Esses versículos
que falam do zelo de Deus estão todos no contexto da idolatria. Como um verdadeiro ser que ama,
Deus zela para que ninguém roube a devoção que lhe dá aquele a quem ele ama.
O zelo de Deus não é por causa de algo que não lhe pertença; pelo contrário, o seu zelo é
para a proteção do que de fato lhe pertence, a saber, a sua total supremacia. Não é pecado Deus
reivindicar lealdade de suas criaturas, porque ele é o Criador e sabe que é melhor para elas não
fazerem um compromisso decisivo com o que nada representa (ídolos). Somente um compromisso
total com aquele que tudo representa é que satisfará completamente o coração humano. Deus é
zeloso para proteger isso.

ÊXODO 20:5 - Deus pune uma pessoa pelos pecados de outra?
(Veja os comentários de Ezequiel 18:20.)

ÊXODO 20:8-11 - Por que os cristãos fazem culto no domingo, já que o mandamento separa o
dia de sábado como o dia para o culto a Deus?
PROBLEMA: Este mandamento estabelece que o sétimo dia da semana, o sábado, é o dia que o
Senhor escolheu como o dia de descanso e de culto. Entretanto, no NT a igreja cristã começou a
cultuar e a descansar no primeiro dia da semana, no domingo. Os cristãos não estão violando o
mandamento do sábado por cultuarem a Deus no primeiro dia da semana, e não no sétimo dia?
SOLUÇÃO: Primeiro, a base para o mandamento de observar o sábado, como estabelecido em
Êxodo 20:11, é que Deus descansou no sétimo dia, depois de seis dias de trabalho, e que ele
abençoou e santificou o sétimo dia. O dia do sábado foi instituído como um dia de descanso e culto.
O povo de Deus deveria seguir o exemplo do próprio Deus, no seu trabalho e descanso. Entretanto,
como Jesus disse, corrigindo a visão distorcida dos fariseus, "O sábado foi estabelecido por causa
do homem, e não o homem por causa do sábado" (Mc 2:27). O que Jesus quis dizer é que o sábado
não foi instituído para escravizar as pessoas, mas para beneficiá-las. O espírito da observância do
sábado é preservado no NT com a observância do descanso e do culto no primeiro dia da semana.
Segundo, deve-se lembrar que, de acordo com Colossenses 2:17, o sábado era uma "sombra
das coisas que haviam de vir; porém o corpo é de Cristo". A observância do sábado estava associada
com a redenção citada em Deuteronômio 5:15, onde Moisés determinou: "porque te lembrarás que
foste servo na terra do Egito, e que o Senhor teu Deus te tirou dali com mão poderosa, e braço
estendido: pelo que o Senhor teu Deus te ordenou que guardasses o dia de sábado". O sábado era
uma sombra da redenção que viria com Cristo; simbolizava o descanso de nossas obras e a entrada
no descanso que Deus propiciou com a sua obra consumada.
Finalmente, embora os princípios morais expressos nos mandamentos sejam reafirmados no
NT, o mandamento de separar o sábado como o dia de descanso e de culto a Deus é o único
mandamento que não é repetido. Há muito boas razões para isso. Os crentes do Novo Testamento
não estão debaixo da Lei do AT (Rm 6:14; Gl 3:24-25). Pela ressurreição de Jesus no primeiro dia
da semana (Mt 28:1), por suas contínuas aparições em vários domingos (Jo 20:26), e pela descida
do Espírito Santo num dia de domingo (At 2:1), a igreja primitiva passou a cultuar no domingo,
regularmente (At 20:7; 1 Co 16:2).
O culto no domingo foi ainda consagrado pelo Senhor quando ele apareceu a João naquela
última grande visão "no dia do Senhor" (Ap 1:10). É por estas razões que os cristãos cultuam no
domingo, em vez de o fazerem no sábado dos judeus.

ÊXODO 20:13 - Como pôde Deus dar o mandamento de não matar, se depois, em Êxodo
21:12, ele ordenou que os assassinos fossem mortos?
PROBLEMA: Nos Dez Mandamentos, Deus proíbe matar, ao dizer: "Não matarás". Entretanto, em
Êxodo 21:12 Ele ordenou que aquele que ferisse um outro homem, e este morresse, deveria também
ser morto. Isto não é uma contradição, Deus ordenar que não matemos, e depois ordenar que
matemos?
SOLUÇÃO: Uma grande confusão tem surgido por causa da incorreta tradução do sexto
mandamento, que assim dá a entender o que de fato não foi comandado por Deus. A palavra
hebraica usada na proibição deste mandamento não é a palavra usual para "matar" (harag). A
palavra usada é o termo específico para "assassinar" (ratsach). Uma tradução mais adequada deste
mandamento seria: "Não assassinarás". Ora, Êxodo 21:12 não é um mandamento para que se
assassine alguém, mas é um mandamento para se aplicar a pena capital no caso desse crime capital.
Não há contradição alguma entre o mandamento que diz que as pessoas não devem cometer o crime
do assassinato e o mandamento que diz que as autoridades estabelecidas devem executar a pena
capital no caso desse tipo de crime.

ÊXODO 20:24 - O altar era feito de terra ou de madeira?
PROBLEMA: Segundo Êxodo 20:24, o altar era construído de terra, mas em Êxodo 27:1 ele
era construído de "madeira de acácia".
SOLUÇÃO: O altar em si era apenas uma cavidade feita de acácia, e era coberto com bronze (Êx
27:2). Mas, quando era usado, nele se colocava terra ou pedras para formar um leito para as brasas.

ÊXODO 21:22-23 - Esta passagem mostra que um ser ainda não nascido tem menos valor do
que um ser adulto?
PROBLEMA: De acordo com algumas traduções da Bíblia, este texto ensina que, se dois homens
brigarem, e a mulher de um deles tiver um aborto, o responsável "será obrigado a indenizar segundo
o que lhe exigir o marido da mulher" (v. 22). Mas, se da briga resultar a morte da mulher, a
penalidade seria a pena capital (v. 23). Isto não prova então que o feto não era considerado um ser
humano, como o era a mãe?
SOLUÇÃO: Antes de mais nada, há aqui uma tradução inadequada. O grande erudito em hebraico,
Umberto Cassuto, traduziu este texto corretamente, da seguinte maneira:
"Se homens brigarem, e ferirem não intencionalmente uma mulher com criança, e seus filhos forem
dados à luz, porém sem maior dano - isto é, nem a mulher nem as crianças morrerem -aquele que
feriu será obrigado a indenizar segundo o que lhe exigir o marido da mulher; e pagará como os
juízes lhe determinarem. Mas, se houver dano grave, isto é, a mulher ou as crianças morrerem,
então, darás vida por vida." {Commentary on the Book of Exodus - Comentário do Livro de Êxodo -
Magnes Press, 1967).
A tradução acima torna o sentido bem claro. É uma passagem de peso contra o aborto,
afirmando que um feto tem o mesmo valor que um ser humano adulto.
Segundo, a palavra hebraica (yatsa), erroneamente traduzida pelo verbo "abortar", na
verdade significa "sair" ou "dar à luz". No AT, é a palavra regularmente empregada com o sentido
de dar à luz com vida. De fato, ela não tem nenhum emprego no sentido de "aborto provocado",
embora tenha o sentido de dar à luz um natimorto. Mas nessa passagem, como em praticamente
todos os textos do AT, a referência é a um nascimento com vida, embora prematuro.
Terceiro, há uma outra palavra hebraica para "aborto" (shakol), que não é usada. Já que ela
era disponível e não foi empregada, tendo sido preferida a palavra que expressa um nascimento com
vida, não há razão para supor que o sentido não seja realmente este: o de dar à luz uma criança com
vida.
Quarto, a palavra usada com referência a que a mulher deu à luz é yeled, que significa
"criança". A Bíblia usa a mesma palavra para "bebês" e para "criancinhas" (Gn 21:8; Êx 2:3). Daí, o
não nascido é considerado um ser humano igual a uma criancinha.
Quinto, se qualquer dano acontecesse, seja para a mãe, seja para o filho, a mesma punição
era devida: "vida por vida" (v. 23). Isso demonstra que o feto possuía o mesmo valor que sua mãe.
Sexto, outras passagens do AT ensinam que o feto é um ser humano em seu sentido mais completo
(veja os comentários de Salmo 51:5 e 139:13ss). O NT confirma esta mesma posição (cf. Mt 1:20;
Lc 1:41,44).

ÊXODO 21:29-30 - Por que a pena de morte era comutada, no caso de alguns assassinos?
PROBLEMA: Números 35:31 ordena: "Não aceitareis resgate pela vida do homicida, que é
culpado de morte: antes, será ele morto". Entretanto, com respeito ao culpado, Êxodo 21:30 diz: "Se
lhe for exigido resgate, dará então como resgate da sua vida tudo o que lhe for exigido". Mas, no
que diz respeito à punição de assassinos, estas instruções se contradizem.
SOLUÇÃO: A razão da diferença está claramente estabelecida no texto -num caso, tratava-se de
um assassinato intencional e, no outro, era apenas um homicídio devido a uma negligência. No
primeiro caso havia malícia, mas no segundo não havia intenção de cometer o mal. De fato, neste
último, o culpado realmente não tinha ele mesmo tirado a vida de outra pessoa. Ele simplesmente
fora negligente ao confinar um touro que tinha a fama de chifrar as pessoas (Êx 21:28-29). Então,
nesse caso, uma multa podia ser aplicada no lugar da pena de morte.

ÊXODO 23:19 - Por que foi proibido cozer o filhote no leite de sua própria mãe?
PROBLEMA: Este versículo ordena: "Não cozerás o cabrito no leite da sua própria mãe" (Êx
23:19). O que isso significa, e por que esta ordem foi dada aos israelitas?
SOLUÇÃO: Aqui há duas perguntas distintas, que precisam ser separadas. Primeiro: o que esta
passagem quer dizer? Segundo: por que Deus se opôs a que eles assim procedessem? A resposta à
primeira pergunta é fácil. Cada palavra da sentença está bem clara. Os israelitas sabiam exatamente
o que fazer. Eles não deveriam nunca cozinhar um filhote de cabrito no leite de sua mãe. Assim, não
havia absolutamente problema algum relacionado ao que Deus não queria que eles fizessem. O
problema real é o porquê da questão: por que Deus proibiu isso? Os comentaristas dão várias
possíveis razões:
1. Porque seria uma prática idolatra.
2. Porque seria uma prática do ocultismo, feita para tentar fazer com que a terra se tornasse mais
produtiva.
3. Porque seria cruel destruir um filhote de cabrito no próprio leite que o sustentava.
4. Porque leite e carne juntos não têm uma fácil digestão.
5. Porque demonstraria desprezo para com o relacionamento mãe e filho.
6. Porque simbolicamente profanaria a Festa da Colheita.
7. Porque Deus queria que cozinhassem com óleo de oliva, e não com manteiga.
8. Porque seria uma luxúria, um ato de epicurismo.
A verdade é que não sabemos ao certo por que Deus deu essa ordem. Mas isso realmente
não tem importância, já que os israelitas sabiam exatamente o que eles não deveriam fazer, mesmo
não entendendo bem o porquê. Assim, embora haja dificuldade em se entender o propósito da
passagem, não é difícil entender o seu significado. Ela significa exatamente o que diz.

ÊXODO 24:4 - Foi realmente Moisés quem escreveu isto, já que vários eruditos modernos
dizem que a autoria é de várias pessoas?
PROBLEMA: Críticos eruditos modernos, acompanhando Julius Wellhausen (século XIX),
afirmam que os cinco primeiros livros do AT foram escritos por várias pessoas, identificadas como J
(Jeovista), E (Eloimista), S (sacerdotista) e D (deuteronomista), dependendo de quais seções
refletem a característica peculiar de tais supostos autores. Entretanto, este versículo declara que
"Moisés escreveu todas as palavras do Senhor" (Êx 24:4). Com efeito, muitos outros versículos na
Bíblia atribuem este livro a Moisés (veja os itens 6 e 9 a seguir).
SOLUÇÃO: Aqui temos outro exemplo de que a crítica negativa da Bíblia está errada. Há uma
evidência muito forte de que foi mesmo Moisés quem escreveu Êxodo. Primeiro, nenhuma outra
pessoa daquela época tinha o tempo, o interesse e a habilidade para compor esse registro histórico.
Segundo, Moisés foi testemunha ocular dos eventos e, como tal, estava qualificado para
descrevê-los. Com efeito, o que está escrito é um relato expressivo de quem viu com os próprios
olhos os espetaculares acontecimentos descritos, tais como a travessia do Mar Vermelho e O
recebimento dos Dez Mandamentos.
Terceiro, o mais antigo ensinamento judeu atribui este livro a Moisés. Isso acontece no
Talmude judeu, bem como assim procederam vários escritores judeus, entre os quais Filo e Josefo.
Quarto, o autor demonstra possuir um conhecimento detalhado da geografia do deserto (cf.
Ex 14). Isso é altamente improvável para qualquer um que, diferentemente de Moisés, não tivesse
muitos anos de experiência de vida naquela área. Isso também é verdade com relação ao
conhecimento do autor quanto aos costumes e práticas do povo descrito em Êxodo.
Quinto, o livro declara explicitamente que "Moisés escreveu todas as palavras" (Êx 24:4).
Se não fosse ele que tivesse escrito, então isso seria uma mentira, que não poderia ser aceita, e não
poderia ser a Palavra de Deus.
Sexto, o sucessor de Moisés, Josué, declarou que foi Moisés quem escreveu a Lei. De fato,
quando Josué assumiu a liderança depois de Moisés, ele exortou o povo de Israel dizendo que eles
não deveriam deixar de falar desse "Livro da Lei" (Js 1:8), e que deveriam ter "o cuidado de fazer
segundo toda a lei que... Moisés... ordenou" (Js 1:7).
Sétimo, uma série de personagens do AT, depois de Moisés, atribuiu o livro de Êxodo a ele,
inclusive Josué (1:7-8); Josias (2 Cr 34:14); Esdras (6:18); Daniel (9:11) e Malaquias (4:4).
Oitavo, Jesus citou Êxodo 20:12, com a seguinte introdução: "Pois Moisés disse" (Mc 7:10
cf. Lc 20:37). Assim, ou Cristo está certo, ou os críticos é que estão. Como há forte evidência de
que Cristo é o Filho de Deus, a questão é clara (veja Geisler and Brooks, When Skeptics Ask -
Quando os Cépticos Perguntam -, 1990, capítulo 6).
Nono, o apóstolo Paulo declarou: "Moisés escreveu que o homem que praticar a justiça
decorrente da lei viverá por ela" (Rm 10:5, citando Ez 20:11). Temos assim base na autoridade
apostólica e na autoridade de Cristo para assegurar que foi Moisés quem escreveu Êxodo.

ÊXODO 24:9-11 -Já que Deus disse em Êxodo 33:20: "homem nenhum verá a minha face, e
viverá", como essas pessoas puderam vê-lo?
PROBLEMA: Êxodo 24:9-11 registra que Moisés, Arão, Nadabe, Abiú e setenta dos anciãos de
Israel subiram ao monte de Deus e "viram o Deus de Israel". Entretanto, Êxodo 19:12-13 diz que as
pessoas nem mesmo podiam tocar na base do monte sem que com isso morressem. E em Êxodo
33:20 Deus diz que ninguém poderá vê-lo e continuar a viver. Como então estas pessoas puderam
subir no monte e ver Deus, e continuar vivas?
SOLUÇÃO: Primeiro, deve-se observar que Deus os convidou para irem vê-lo. Em Êxodo 19:12-
13 Deus disse a Moisés para estabelecer os limites em volta do monte, de forma que ninguém
tocasse em sua base, sob pena de morte. Entretanto, Deus especificamente convidou alguns para
subirem o monte, a fim de consagrá-los ao serviço para o qual eles tinham sido indicados, e para
selar a aliança que havia sido estabelecida entre Deus e a nação de Israel.
Segundo, está claro pela descrição e por outras passagens das Escrituras (Êx 33:20; Nm
12:8; Jo 1:18) que o que essas pessoas viram não foi a essência de Deus, mas sim uma
representação visual da glória de Deus. Mesmo quando Moisés pediu para ver a glória de Deus (Êx
33:18-23), foi somente a semelhança de Deus que ele viu (cf. Números 12:8, em que é empregada a
palavra temunah - "semelhança"), e não a essência de Deus propriamente dita.

ÊXODO 24:10 - Deus pode ser visto?
PROBLEMA: De acordo com este versículo, Moisés e os anciãos "viram o Deus de Israel".
Contudo, Deus disse a Moisés que ele não podia ver a face de Deus (Êx 33:20), e João deixa bem
claro: "Ninguém jamais viu a Deus"_(Jo 1:18).
SOLUÇÃO: Deus não pode se conhecido direta nesta vida e completamente. "Porque agora vemos
como em espelho obscuramente, então veremos face a face; agora conheço em parte, então
conhecerei como também sou conhecido" (1 Co 13:12). Deus pode ser conhecido "por meio das
coisas que foram criadas" (Rm 1:20), mas ele não pode ser conhecido em si mesmo. O seguinte
contraste resume os modos pelos quais Deus pode e não pode ser conhecido:
COMO DEUS NÃO
PODE SER CONHECIDO
COMO DEUS
PODE SER CONHECIDO
Completamente Parcialmente
Diretamente Indiretamente
Em si mesmo
(Sua essência)
Por meio da criação
(Seus efeitos)
Como Espírito Encarnado em Cristo
Conquanto seja verdade que "Ninguém jamais viu a Deus" [em sua essência], conforme
João 1:18, não obstante o seu Filho unigênito o revelou. Assim, Jesus pôde dizer: "Quem me vê a
mim, vê o Pai" (Jo 14:9).

ÊXODO 25:18ss - Se é errado fazer imagens de escultura, por que então Deus ordenou a
Moisés que fizesse uma?
PROBLEMA: Deus claramente ordenou em Êxodo 20:4: "Não farás para ti imagem de escultura,
nem semelhança alguma do que há em cima nos céus, nem embaixo na terra, nem nas águas
debaixo da terra".
Contudo, Moisés é instruído por Deus a fazer "dois querubins de ouro; de ouro batido" (v. 25:18).
Se é errado fazer qualquer tipo de imagem, então por que Deus ordenou que Moisés fizesse imagens
para pôr na arca da aliança?
SOLUÇÃO: A proibição de se fazer imagens de escultura foi especificamente determinada no
contexto da adoração a ídolos. Há, então, várias razões pelas quais fazer um querubim não conflita
com o mandamento de não se curvar diante de imagens esculpidas. Primeiro, não havia como o
povo de Israel dobrar-se diante do querubim, no Santo dos Santos, já que as pessoas eram proibidas
de entrar naquele lugar a qualquer tempo. Até mesmo o sumo sacerdote ia ao Santo dos Santos
somente uma vez por ano, no Dia da Expiação (Lv 16).
Além disso, a proibição não é de se fazer qualquer imagem de escultura para fins
decorativos, mas de fazer imagens para qualquer tipo de adoração religiosa. Em outras palavras, a
ordem era para não adorar nenhum outro Deus nem imagem de qualquer deus. Aqueles querubins
não foram dados a Israel como imagens de Deus, mas de anjos. Nem foram dados para serem
adorados. Daí a conclusão de que não há como a ordem de fabricá-los possa violar o mandamento
de Êxodo 20.
Finalmente, a proibição em Êxodo 20 não foi contra a arte religiosa como tal, o que inclui
coisas no céu (anjos) e na terra (homens e animais). Ela foi contra o uso de qualquer imagem como
ídolo. Que se pode depreender que o texto tinha em mente a idolatria é evidente, pelo fato de haver
a instrução: "não te encurvarás a elas, nem as servirás" (Êx 20:5, SBTB). A distinção entre o uso
não-religioso e o uso religioso de imagens é importante:
O USO DE IMAGENS
PROIBIDO PERMITIDO
Objeto de adoração Não um objeto de adoração
Designadas pelo homem Designadas por Deus
Com propósito religioso Com propósito educacional
Para representar a essência de Deus Para afirmar a verdade
Sem qualificações Com qualificações
Até mesmo a linguagem utilizada para referir-se a Deus na Bíblia contém imagens. Ele tanto
é pastor como pai. Mas essas duas imagens qualificam-no de forma apropriada, Deus não é
simplesmente um pai qualquer. Ele é o nosso Pai Celestial. De igual modo, Jesus não é um mero
pastor, mas o Bom Pastor, que deu a sua vida por suas ovelhas (Jo 10:11). Nenhuma imagem finita,
sem qualificação, pode ser aplicada apropriadamente ao Deus infinito. Fazer isso é idolatria. E
ídolos são ídolos, quer sejam mentais ou de metais.

ÊXODO 31:17 - Deus pode se cansar?
(Veja os comentários de Gênesis 2:1.)

ÊXODO 31:18 - Deus tem dedos?
PROBLEMA: Este versículo diz que as tábuas dos Dez Mandamentos foram "escritas pelo dedo de
Deus". Mas a Bíblia diz também com firmeza que "Deus é espírito" (Jo 4:24) e que espíritos não
têm "carne nem ossos"(Lc 24:39). Como, então, pode Deus ter dedos?
SOLUÇÃO: No sentido literal, Deus não tem dedos. A expressão "dedo de Deus" é uma figura de
linguagem que indica o envolvimento direto de Deus na produção dos Dez Mandamentos. Essa
figura é chamada de antropomorfismo (falar de Deus com termos humanos).
A Bíblia usa muitas figuras de linguagem ao referir-se a Deus, inclusive "braço" (Dt 7:19),
"asas" (SI 91:4) e "olhos" (Hb 4:13). Nenhum desses casos deve ser tomado literalmente, embora
todos eles descrevam alguma coisa exata e verdadeira sobre Deus. Por exemplo, embora na verdade
Deus não possua braços, ele pode e estende verdadeiramente a sua força, para fazer grandes coisas
que, se fossem feitas por homens, requereriam fortes braços.

ÊXODO 32:14 - Deus muda de idéia?
PROBLEMA: Enquanto Moisés estava no monte recebendo a Lei de Deus, o povo estava ao pé do
monte adorando um bezerro de ouro que tinham construído (32:4-6). Quando Deus instruiu Moisés
a descer até eles, o Senhor lhe disse que os consumiria, fazendo de Moisés "uma grande nação"
(32:10). Moisés, porém, ao ouvir isso, suplicou ao Senhor que abrandasse a sua ira. O versículo 14
diz: "Então se arrependeu o Senhor do mal que dissera havia de fazer ao povo". Isso quer dizer,
então, que Deus mudou de idéia. Entretanto, em 1 Samuel 15:29, Deus diz que "não é homem, para
que se arrependa"; e em Malaquias 3:6 ele diz: "Porque eu, o Senhor, não mudo". Ainda, no NT,
Deus demonstrou a "imutabilidade do seu propósito"(Hb 6:17), fazendo um juramento. Afinal, Deus
muda ou não muda de idéia?
SOLUÇÃO: Tem-se de sustentar enfaticamente que Deus não muda (cf. Ml 3:6; Tg 1:17). Ele não
muda de idéia, nem sua vontade ou natureza. Há vários argumentos que demonstram a
imutabilidade de Deus. Vamos considerar apenas três.
Primeiro, para que alguma coisa mude, algo tem de ser feito numa ordem cronológica. Tem
de haver um ponto antes e outro ponto depois da mudança. Tudo o que passa por um "antes" e um
"depois" existe no tempo, porque a essência do tempo é vista pelo progresso cronológico de uma
situação anterior para uma posterior. Entretanto, Deus é eterno e está fora do tempo (Jo 17:5; 2 Tm
1:9). Então, não pode haver em Deus uma série de "anteriores" e "posteriores"; logo, ele não pode
mudar, porque a mudança necessariamente envolve um "antes" e um "depois".
Segundo, toda mudança é para uma situação melhor ou pior, pois uma mudança que não
faça diferença não é uma mudança. Ou alguma coisa necessária é obtida, a qual anteriormente não
se fazia presente, o que é uma mudança para melhor; ou alguma coisa que se tem e que é necessária
é perdida, o que é uma mudança para pior. Mas, se Deus é perfeito, ele de nada necessita; portanto
ele não pode mudar para melhor. E se Deus fosse perder alguma coisa, então ele não permaneceria
perfeito; portanto Ele não pode mudar para pior. Assim, Deus não muda.
Terceiro, quando alguém muda de idéia, é porque recebeu uma nova informação, da qual
não tinha conhecimento anteriormente, ou porque as circunstâncias mudaram de forma a requerer
uma atitude ou ação diferente. Mas, se Deus mudou de idéia, não pode ser porque ele ficou sabendo
de qualquer nova informação que desconhecia anteriormente, porque Deus é onisciente - ele sabe
todas as coisas (Sl 147:5). Portanto, tem de ser porque as circunstâncias mudaram e demandam uma
atitude ou ação diferente. Mas se as circunstâncias mudaram, isso não significa necessariamente que
Deus tenha mudado de idéia. Significa apenas que, como as circunstâncias mudaram, o
relacionamento de Deus com a nova realidade é diferente. Porque as circunstâncias, e não Deus,
mudaram.
Quando Israel estava ao pé do monte, envolvido numa adoração a um ídolo, Deus disse a
Moisés que a sua ira estava ardendo contra os filhos de Israel e que ele se dispunha a destruí-los
num juízo. Entretanto, quando Moisés intercedeu por eles, as circunstâncias mudaram. A atitude de
Deus para com o pecado é sempre a ira, mas a sua atitude para com aqueles que o invocam é
sempre de misericórdia. Antes de Moisés orar por Israel, eles estavam sob o juízo de Deus. Porém, a
intercessão de Moisés pelo povo de Israel levou-os a ficar sob a misericórdia de Deus. O Senhor
não mudou. O que mudou foram as circunstâncias.
A linguagem empregada nesta passagem é chamada antropomórfica. É semelhante a uma
pessoa que, movendo-se de um lado para outro, diga: "Agora a casa está à minha direita", e depois:
"Agora a casa está à minha esquerda". Essas afirmações não querem dizer que a casa se moveu. É
que a linguagem, sob a perspectiva de alguém, está descrevendo que a pessoa mudou a sua posição
em relação àquela casa. Quando Moisés disse que Deus se arrependeu, essa foi uma forma
figurativa de descrever que a intercessão de Moisés teve êxito em mudar o relacionamento do povo
de Israel com Deus. Ele tirou a nação do juízo de Deus e a trouxe para a misericórdia de sua graça.
Deus não muda, nem muda de idéia, nem de vontade; sua natureza é imutável.

ÊXODO 33:3 - Deus mudou de idéia quanto a ir com os israelitas até a Terra Prometida?
PROBLEMA: Deus declara: "eu não subirei no meio de ti" (Êx 33:3). Contudo, mais tarde Deus
foi com eles de forma poderosa e vitoriosa, levando-os à vitória sob o comando de Josué (veja Josué
1-11).
SOLUÇÃO: Essas passagens falam de tempos diferentes. A primeira refere-se à primeira geração
de israelitas, a segunda fala da segunda geração que creu em Deus e que seguiu Josué até a terra.
Nem todas as advertências (ou promessas) de Deus são incondicionais. Esta, em particular, foi
condicional. Deus iria com eles se e quando eles confiassem no Senhor (o que a segunda geração
fez); mas Deus não iria com eles se e quando eles não confiassem nele (o que a primeira geração
fez). O propósito irreversível de Deus de levá-los à Terra Prometida dava lugar a certas condições
temporárias que poderiam ser alteradas de forma que tal propósito fosse atingido. (Quanto a Deus
mudar de idéia, veja também a questão anterior).

ÊXODO 34:20 - Os animais imundos deveriam ser mortos ou resgatados com dinheiro?
PROBLEMA: Números 18:15-16 instrui que animais imundos deveriam ser resgatados com
dinheiro. Mas Êxodo tinha ordenado que fossem mortos. Como conciliar esta divergência?
SOLUÇÃO: Aparentemente Deus instruiu Moisés a modificar a lei anterior para propiciar
benefícios para o santuário. O dinheiro teria mais utilidade do que muitos animais. Assim, a
essência da primeira lei estava sendo aplicada de uma maneira diferente, devido às circunstâncias.
Na verdade, a obediência à primeira lei é que deve ter ocasionado a necessidade da segunda. Deve
ter havido excesso de animais doados para o serviço do tabernáculo, quando se tinha grande
necessidade de outras coisas que o dinheiro podia comprar.

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